FEVEREIROS.
Brasil, 2017. Direção: Márcio
Debellian. Documentário. Com Maria Bethânia. 75 min.
Maria Bethânia, uma das maiores intérpretes da
música brasileira, com 50 anos de uma brilhante carreira, já recebeu inúmeras
homenagens, foi cantada em prosa e em verso, por meio de todas as mídias
possíveis. Um desafio para o
documentarista Márcio Debellian. O que
ainda faltaria dizer ou abordar sobre ela?
Quem mostrou o caminho foi a escola de samba
Estação Primeira de Mangueira. Em 2016,
a Verde e Rosa homenageou Bethânia com o enredo “Menina dos Olhos de Oya”,
dando destaque ao lado religioso da vida dela.
O sincretismo religioso de Maria Bethânia
combina o candomblé, a devoção católica, sobretudo, à Nossa Senhora e
sabedorias herdadas dos índios. Esse
amálgama traz a fé temperada pela diversidade e pela tolerância. E o convívio muito próximo e intenso com o
mano Caetano acrescenta os elementos de ceticismo e ateísmo à mistura. Caetano Veloso, aberto a tudo, como ela,
compartilhando experiências, mesmo sem crer verdadeiramente. Belos exemplos de respeito à ampla
diversidade de cultos, crenças e não crenças.
Que celebra a vida e a história, com festa.
O filme “Fevereiros” explora bem esse caminho,
ao mostrar e tratar do desfile campeão da Mangueira, que levou em conta a
história do samba, a tolerância religiosa e o racismo, ao homenagear a carreira
da cantora, que explodiu em 1964, no show
Opinião, com a célebre interpretação de “Carcará”, de João do Vale. A ave, em grandes dimensões, foi um dos
destaques do desfile.
Márcio Debellian buscou explorar o universo
familiar, festivo e religioso de Bethânia, acompanhando-a a Santo Amaro da
Purificação, cidade natal dela, no Recôncavo Baiano, a região brasileira que
recebeu mais negros escravizados da África.
E a cidade que cultua Santo Amaro, Nossa Senhora da Purificação e outros
santos em todos os fevereiros, com grandes rituais e festas populares. Maria Bethânia nunca deixa de estar lá, a
partir de 31 de janeiro, em todos os fevereiros, luminares, marcantes de sua vida.
“Fevereiros” traz a boa conversa de Bethânia,
de Caetano Veloso, de outros familiares dela, participações de Chico Buarque e
da turma da Mangueira. Tudo muito bom de se ver e ouvir. Pena que haja pouca música cantada por ela,
mas isso se perdoa. Afinal, o que mais
se conhece dela são suas canções gravadas, os poemas que ela recita lindamente,
suas aparições mágicas nos palcos. O
recorte de “Fevereiros” é outro, não exatamente original, mas bastante
oportuno. Em tempos de fundamentalismos
religiosos idiotas e opressores, é bom celebrar a vida, a festa, a tolerância
e, sobretudo, a diversidade.
“Fevereiros”,
lançado no festival do Rio 2017, já
exibido em 29 festivais de cinema pelo mundo, foi escolhido como o melhor filme
do 10º. In-Edit Brasil e recebeu menção honrosa do Júri Latino-americano do
Festival Internacional do Uruguai.
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