MEU QUERIDO FILHO (Weldi). Tunísia, 2018. Direção e roteiro: Mohamed Ben Attia. Com Mohamed Dhrif, Mouna Mejri, Zaharia Ben
Ayyed. 104 min.
O que o filme tunisiano “Meu Querido Filho’,
dirigido por Mohamed Ben Attia, nos mostra é uma relação simbiótica entre pai e
filho. Conta também com a participação
da mãe, Nazli (Mouna Mejri), mas de modo mais distanciado e crítico. Já o pai, Riadh (Mohamed Dhrif), que acaba de
se aposentar, vive agora em tempo integral a vida de seu filho único, em vias
de prestar o vestibular. O menino Sami
(Zaharia Ben Ayyed), sufocado nessa relação, se comporta como um boi que vai ao
matadouro. Depressivo e sem reação
aparente, a não ser as constantes enxaquecas, que denunciam seu mal-estar
permanente. O que só reforça a atitude
familiar de viver em função das necessidades do filho. Como sair dessa enrascada?
O filme dá uma pista: Sami sai correndo de
algum lugar para chegar a tempo de ser buscado pelo pai no colégio. E de lá sai como se tivesse se dedicado às
aulas durante aquele período. Às
vésperas do vestibular, desaparece, deixando os pais sem rumo.
Até aí, o processo é compreensível e bem
descrito. A maionese desanda quando a
gente fica sabendo que Sami foi para a Síria, em plena guerra, e o pai resolve
ir atrás dele. Estranho esse
caminho. Para se diferenciar e encontrar
sua identidade, foi preciso ir em busca de uma forma de terrorismo
islâmico? Por que a Síria? Para se casar e ter filhos lá? Mais estranho ainda. Teria sido convencido a ir lutar, por meio da
Internet? Ou teria sido sequestrado?
A questão assume contornos políticos que
complicam a narrativa e flertam com preconceitos e com o uso da velha fórmula:
o lado do bem e o lado do mal.
“Meu Querido Filho” conclui bem, depois disso,
pois volta ao contexto pessoal e familiar de onde partiu, mas deixa um cheiro
de manipulação no ar, que soa incômodo.
E não permite que a trama flua dentro da temática psicológica que nos
apresentou. Elementos exógenos a ela
ficam mal explicados, inconvincentes.
O desempenho do elenco é bom, mas a figura do
filho demandaria mais nuances interpretativas.
Já o pai é muito convincente na sua atuação, evocando sua dedicação, sua
luta interna e seu sofrimento. Talvez
por isso seja mais fácil identificar-se com ele, em que pese a opressão
inconsciente que o personagem pratica, do que com o filho, sufocado e inerte. Bem, isso também dependerá da idade do
espectador, por certo.
“Meu Querido Filho” foi exibido na 42ª. Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo.
Participam dessa produção bem cuidada os irmãos Dardenne, conceituados
cineastas belgas.
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