terça-feira, 15 de janeiro de 2019

YARA

Antonio Carlos Egypto





YARA (Yara).  Líbano, Iraque, 2018.  Direção e roteiro: Abbas Fahdel.  Com Michelle Webbe, Elias Freifer, Mary Alkady, Charbel Alkady.  101 min.


‘Yara” nos leva a uma região de grande beleza natural, no norte do Líbano: o Vale de Qadisha, uma localidade rural isolada, cercada de belas montanhas e uma paisagem verde exuberante.  Circulam por lá as cabras, as galinhas, gente que cozinha, lava roupa, toma sol.  Muito pouca gente.

Num ambiente tranquilo e de muita paz, tão perto de uma zona conflagrada, vivem a adolescente Yara (Michelle Webbe) e sua avó uma rotina em que, a rigor, nada acontece e tudo se repete.

No entanto, a entrada em cena de um jovem andarilho, Elias (Elias Freifer), meio perdido naquela região, acaba trazendo uma inesperada amizade e a perspectiva de um amor de verão para Yara e para ele.  A narrativa rarefeita de “Yara” se resume a isso, num ritmo bastante lento, contemplativo. 

Durante uma hora e meia vivemos nesse paraíso de beleza e paz, sorvendo cada instante, percebendo nuances, detalhes.  É um tipo de filme, hoje já disseminado, que se contrapõe à tendência não só do cinemão comercial, agitado e enlouquecido, como da vida diária das grandes cidades do mundo, seus conflitos e suas guerras.  Um bálsamo para tempos bicudos.




É curioso que essa tenha sido a escolha do diretor Abbas Fahdel, nascido no Iraque, vivendo na França desde os 18 anos de idade.  Ele atuou como documentarista em função da terrível situação da guerra em seu país, procurando entender o que teria acontecido com seus amigos de infância que lá permaneceram, registrando um Iraque abalado pela violência, pelo pesadelo da ditadura e pelo caos que lá se instalou.  Outro documentário em duas partes, “Antes da Queda” e “Depois da Batalha”, aborda a invasão norte-americana do país.  Um longa de 2008, “Down of The World”, é um drama sobre os múltiplos impactos da Guerra do Golfo, numa área conhecida como Jardim do Éden.

Com esse histórico e essa identidade geográfica, chega a ser surpreendente esse conto de amor, emoldurado pela beleza natural, pela juventude, pela inocência e pela sutileza.   O diretor foi em busca de uma fábula que traz o reverso da moeda.  Um alívio, depois de tanta guerra e destruição.  Um filme extremamente delicado e sensível, ambientado num Líbano pacífico.  Um filme para relaxar e curtir, sem pressa.

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