Antonio Carlos
Egypto
TESNOTA (Tesnota). Rússia, 2017. Direção: Kantemir Balagov. Com Darya Zhovner, Olga Dragunova, Artem
Tsypin, Nazir Zhukov. 118 min.
“Tesnota”, que está entrando em cartaz nos
cinemas nesta semana, é o primeiro longa-metragem do diretor russo Kantemir
Balagov, que também responde pela montagem e pelo roteiro do filme, este em
parceria com Anton Yarush. Indícios
claros de um trabalho autoral, que se confirma desde as primeiras imagens, nada
convencionais. Apresenta uma fotografia
que enfatiza tons escuros e cores fortes ao mesmo tempo, fazendo sobressair as
tensões do ambiente.
O foco do filme é uma comunidade judaica,
fechada e marginalizada, na localidade de Nalchik, norte do Cáucaso, cidade
natal do diretor. O ano: 1998. A personagem central Ilana, de 24 anos,
trabalha na oficina do pai como mecânica e ama um personagem cabardino,
num relacionamento algo clandestino, não
aceito pela família. Trata-se do que na
própria trama do filme é referido como sendo as tribos, que são discriminadas pelos russos.
O evento central da narrativa é o sequestro de
um casal de noivos, logo após a cerimônia de compromisso deles. David, o noivo, é o irmão mais novo de
Ilana. E a questão que se colocará é a
de como pagar o resgate pedido sem mexer com a polícia, para evitar maiores
complicações.
O dinheiro servirá para mostrar, de um lado,
um espírito de coletividade e solidariedade, mas, de outro, o ressentimento de
alguns, a chantagem e também a tentativa de se aproveitar da situação para
conseguir algum objetivo, difícil de ser alcançado por outro meio.
A família de Ilana e David não tem posses
suficientes e a própria oficina mecânica, que é sua fonte de sustento, estará
em questão. Assim como o casamento de
Ilana. Passaram a vida se mudando de um
lado para o outro, para tentar sobreviver e escapar dos preconceitos. O sequestro parece levá-los de volta para a
estrada. Inevitável será enfrentar questões éticas, que poderão complicar ou
arruinar a vida de cada um deles: pai, mãe, irmãos e parceiros amorosos. As decisões que todos têm de tomar são
vitais, decisivas e urgentes.
Todo esse clima de angústia e tensão é muito
bem trabalhado ao longo do filme, em ritmo lento e seguro. Pouco é explicitado verbalmente, o que
importa é o que está por trás do não dito.
Está muito presente nos semblantes, gestos, posturas, silêncios. Elementos fundamentais em “Tesnota”, que
dependem do bom desempenho do elenco.
O cineasta tem uma referência e fonte de
influência muito fortes. Estudou e atuou
no departamento de cinema da Universidade de Stravropol, com Alexander Sokurov,
um grande cineasta russo da atualidade que, por sinal, é um dos produtores de
“Tesnota”. O filme foi exibido nos
festivais de Munique e Cannes, em que recebeu o prêmio FIPRESCI (Un Certain
Regard).
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