Antonio Carlos
Egypto
A FESTA (The
Party). Inglaterra, 2017. Direção e roteiro: Sally Potter. Com
Timothy Spall, Kristin Scott Thomas, Patricia Clarkson, Bruno Ganz, Emily
Mortimer, Cillian Murphy. 71
min.
“A Festa” é uma comédia irônica, de sorrisos,
não de gargalhadas. Ao revelar-nos um
universo perverso, que escamoteia todas as questões, o que fica é só aparência
e vazio. O que é objeto de reflexão
sobre o mundo dos bem-sucedidos e poderosos.
Um encontro íntimo reúne sete amigos, com a
intenção de celebrar a ida de Janet (Kristin Scott Thomas) para o prestigioso
ministério da saúde. É bom lembrar que o
atual atendimento britânico de saúde é referência mundial . Pois bem, o filme tratará de pôr em cheque
isso também.
O mais importante é que uma doença terminal,
revelações sobre uma gravidez inesperada, infidelidades várias, lesbianismo e dependência
de drogas, serão elementos detonadores dessa celebração.
O desnudamento da burguesia que o filme
apresenta faz lembrar o mestre espanhol Luís Buñuel e seu estilo
corrosivo. No entanto, aqui não há
propriamente surrealismo ou non sense. Tudo se dá numa dimensão que cabe no terreno
racional. Com dificuldade, é verdade,
mas cabe. O mais próximo do surreal é o
ótimo personagem de Bruno Ganz, Gottfried, com sua energia positiva descolada
da realidade, sua atitude de autoajuda e suas crenças alternativas.
Já a militante do partido que vai virar
ministra nos é bastante familiar, no seu cinismo e descrença do seu papel republicano
no governo. A intelectualidade real, ou
simulada, dos demais não resiste ao crivo da razão e do equilíbrio. Jogam pesadamente
na deslealdade, no que está encoberto ou omisso. Detonam a si mesmos e aos outros.
O título original “The Party” refere-se tanto
à festa quanto ao partido. Um bom
roteiro, diálogos atraentes, um elenco de peso e uma interessante opção pelo
preto e branco, que reforça a ligação com o Buñuel dos primeiros tempos, faz do
filme da cineasta Sally Potter uma ótima atração do presente ano
cinematográfico.
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