CUSTÓDIA
CUSTÓDIA (Jusqu’à
la Garde). França, 2017. Direção e roteiro: Xavier Legrand. Com Denis Ménochet, Léa Drucker, Thomas
Gloria, Mathilde Auneveux, Mathieu Saikaly.
90 min.
A separação de casais com filhos não precisa ser complicada ou
traumática, como a que acontece no filme francês “Custórida”, de Xavier
Legrand, um dos destaques da 41ª. Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo. Muitas vezes, o convívio das
crianças com as casas e, eventualmente, famílias de pais e mães separados, pode
até enriquecer ou diversificar as experiências delas, se tudo se faz de forma
pacífica e civilizada. Pode até persistir um vínculo afetivo bom entre os
cônjuges que decidiram, cada um, levar a sua vida em outros termos.
Mas, quando a separação é litigiosa, resulta em brigas, violência e
disputa judicial da guarda e do direito de conviver com os filhos, quem acaba
suportando a maior e mais pesada carga são justamente as crianças. Para mostrar
isso com clareza e intensidade dramática, “Custódia” coloca em foco o menino
que vai a contragosto conviver com o pai, volta para a casa da mãe, fica no
meio do conflito, passando recados de um a outro, que não querem se ver. E por
aí vai.
A narrativa é firme, bem construída, o desempenho do garoto é
espetacular, nos faz viver o que ele estaria experimentando. A questão de gênero é bem mostrada.
A solução dramática final parece inevitável, embora esteja aqui carregada
nas tintas. Mas a sequência é muito boa,
extremamente tensa, com um clímax emocionante.
O diretor demonstra um talento incrível já no seu primeiro
longa-metragem.
HANNAH
HANNAH (Hannah). Itália, 2017.
Direção: Andrea Pallaoro. Com
Charlotte Rampling, André Wilms, Stéphanie Van Vyve, Simon Bisschop. 95 min.
“Hannah”, do diretor italiano Andrea Pallaoro, é um filme de climas,
sentimentos represados, frustrações e, no limite, perda de identidade. A personagem título, vivida pela grande atriz
inglesa Charlotte Rampling, mal se sustenta de pé, com suas ações cotidianas na
casa, num curso de teatro, nadando na piscina de um clube, exercendo um
trabalho que envolve cuidar de um menino cego numa instituição, numa vida
familiar que desmorona. Ela tem um
marido, com quem mantém relações um tanto distantes, mas ele acaba na prisão,
entregando-se voluntariamente. Ela
também tem um neto, mas está impedida de vê-lo pelo filho, que a quer
longe. Ela tem um cachorro, apegado ao
marido, com quem também não consegue um vínculo de afeto.
Tudo isso é vivido de forma misteriosa, sem que se possam conhecer as
razões objetivas dessas situações. O
diretor não está interessado nisso. Ele
quer nos mostrar a solidão, o declínio da existência, a depressão e a
velhice. Como isso pode ser vivido de
forma dolorosa e sem perspectivas.
Para tal se vale de ambientes escuros, embrumados, esfumaçados, com falta
de foco no entorno. Ele filtra através
de vidros opacos, filma em ambientes impessoais, os de transporte coletivo,
como o metrô. Lugares onde pessoas
também podem expressar emoções de forma abrupta. No entanto, a solidão parece mais forte
justamente numa hora dessas.
O filme é falado em francês, mas tem muito poucas falas. O som, entretanto, é um de seus trunfos. O som ambiente, um rádio ligado, falas,
risos, latidos, tudo o que cerca Hannah, mas que não diz respeito a ela. Acentua-se, desse modo, sua alienação do
mundo em que habita.
Um retrato íntimo de uma mulher idosa, que suporta suas perdas, que
parecem só aumentar, confundindo-se no emaranhado de suas memórias, sem se
conectar a elas verdadeiramente.
Tentando não ver, não saber. Um
personagem que é um desafio, vencido com galhardia por Charlotte Rampling, ganhadora
do prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza 2017, com todos os méritos.
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