Antonio Carlos
Egypto
COMO NOSSOS PAIS.
Brasil, 2017. Direção: Laís
Bodansky. Com Maria Ribeiro, Clarice
Abujamra, Paulo Vilhena, Felipe Rocha, Jorge Mautner. 102 min.
O principal vencedor do 45º. Festival de Gramado é o
novo trabalho de Laís Bodansky, “Como Nossos Pais”. O filme é muito competente, tem grande
capacidade de comunicação com o público, merece ser conhecido e apreciado.
A abordagem é de cunho familiar: todas aquelas
questões que dizem respeito às relações conjugais, às crises do casamento, às
insatisfações, aos ciúmes, às relações com os pais e com os filhos, às
histórias que ficaram no passado e que irrompem quando menos se espera. O que ficou guardado por muito tempo, o que é
insinuado e não dito, a busca por verdade no convívio. Enfim, um painel bastante amplo, que
possibilita uma identificação fácil com uma plateia de classe média urbana, nos
dias de hoje.
O filme trabalha essas relações sob a perspectiva de
gênero, a partir de fortes personagens femininas. Rosa, em grande interpretação de Maria
Ribeiro, e sua mãe Clarice (Clarice Abujamra) enfrentam os desafios de ser
mulher, as pressões e vicissitudes da vida, em momentos diferentes de nossa
história recente, e se enfrentam. Elas
conduzem toda a trama. Seus conflitos
trazem à tona a complexidade da luta feminina.
Pontos fortes do trabalho são o roteiro de Laís
Bodansky e Luiz Bolognesi, os personagens consistentemente concebidos,
sobretudo os femininos, e as atuações do elenco. Os diálogos são muito ricos, reveladores da
dinâmica dos problemas, e bem humorados.
Por falar em bom humor, Jorge Mautner realiza, no papel de Homero, um
dos mais bem compostos e engraçados personagens da recente safra do nosso
cinema. Esse pai lunático, completamente
fora da realidade, mas cheio de sinuosidades e de amor para dar, é absolutamente
cativante.
“Como Nossos Pais” é um drama, mas que nos faz rir em
muitas oportunidades. Não só quando está
em cena Jorge Mautner, mas em muitas situações em que a ironia se faz bem
presente. As incoerências que todos
temos falam mais alto e provocam aquela identificação com os personagens que
acaba por nos envolver intensamente no realismo dos relacionamentos familiares
que marca a trama do filme. E, claro,
produz reflexão de boa qualidade.
A diretora Laís Bodansky já tem um trabalho sólido no
cinema brasileiro, com destaque para “Bicho de Sete Cabeças”, de 2000. Aqui, ela reafirma suas qualidades como
cineasta.
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