Antonio Carlos Egypto
Reproduzo abaixo a listagem dos premiados da 40ª. Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo, conforme enviado pelo setor de comunicação do evento, numa
versão simplificada, mas onde constam todos os prêmios e algumas explicações
fundamentais.
O principal premiado entre os filmes de novos diretores foi um que chegou
sem fazer alarde, foi até pouco visto, porém, reúne os méritos para isso. Foi o venezuelano EL AMPARO, primeiro
longa-metragem do diretor Rober Calzadilla, que é ator, roteirista e diretor e
fez sua formação em cinema na cidade de Caracas, capital do país.
EL AMPARO |
O filme reconstrói uma história política assustadora, mas que
infelizmente não nos parece tão estranha assim.
Conhecemos várias, similares. Há
quase trinta anos, na cidade da Venezuela, El Amparo, fronteira com a Colômbia,
o exército venezuelano mata “por engano” 14 pescadores, mas cria uma narrativa
que os classifica como guerrilheiros e tenta impor sua história a todos,
inclusive aos dois pescadores sobreviventes do massacre. Passaram-se vários governos e o caso se
arrasta até hoje, em relação a questões relevantes não resolvidas. Fundamental conhecer os meandros disso,
mostrados por um envolvente roteiro, premiado pela Associação de
Roteiristas. A força do cinema
latino-americano tem sido consistentemente registrada nas últimas Mostras, por
isso não surpreenderam os prêmios agora conquistados.
A menção honrosa às atrizes dos filmes A BOA ESPOSA, da
Sérvia/Bósnia/Croácia, a também diretora Mirjana Karanovic e a de SAMI BLOOD,
da Suécia, Lene Cecilia Spark, é absolutamente merecida e os dois filmes são
muito bons. SAMI BLOOD expõe o
preconceito, a discriminação e as duvidosas teorias raciais dos anos 1930 em
cima do sangue Sami, a etnia oprimida.
Primeiro longa da diretora sueca Amanda Kernell. A BOA ESPOSA reflete questões de gênero,
mostrando bem a condição feminina e o passado terrível que a chamada guerra da Bósnia deixou para a vida das
pessoas.
Entre os diretores experientes, a crítica escolheu o ótimo DEPOIS DA
TEMPESTADE, do já consagrado cineasta japonês Kore-Eda (de “Pais e Filhos”,
2013, e “Nossa Irmã Mais Nova”, de 2015).
O personagem Ryota, escritor decadente e detetive particular sem rigores
éticos, é um anti-herói sem caráter, mas de uma simpatia e de uma capacidade
afetiva que acabam por levar as pessoas a relevarem seus comportamentos sempre
inconsistentes. Um excelente personagem,
que garante o filme, que tem ainda mulheres muito bem construídas como
personagens e um garoto muito bom. Como
sempre, os filmes de Kore-Eda encantam público e crítica. Grande mérito.
Do documentário PITANGA, brilhante e engraçado, já falei aqui, na última
postagem do cinema com recheio. Beto
Brant e Camila Pitanga foram os diretores do melhor filme brasileiro da Mostra
pela crítica.
O público aprovou e premiou o novo filme do diretor da Coreia do Sul,
Park-Chan-Wook, THE HANDMAIDDEN. Eu
também gostei do trabalho, visualmente bonito e com uma trama cheia de
reviravoltas, do tipo quem engana quem e quem é o ingênuo aqui. Um pouco longo e violento, em vários
sentidos, mas produz boa diversão.
GAGA -O AMOR PELA DANÇA |
GAGA - O AMOR PELA DANÇA, documentário de Israel, também cativou o
público. Mostra o mundo criativo,
métodos, ensaios, apresentações do coreógrafo Ohad Naharin, e muito material de
arquivo do trabalho da Companhia de Dança Batshava, de Tel-Aviv. O filme de Tomer Heymann respira dança
contemporânea, mas não deixa de abordar as questões políticas aí envolvidas.
Dos outros filmes que constam da lista, não posso falar, porque ainda não
vi.
TROFÉU BANDEIRA PAULISTA 2016
PRÊMIO DO JÚRI INTERNACIONAL
Após serem exibidos na 40ª Mostra, os filmes da
seção Competição Novos Diretores mais votados pelo público foram
submetidos ao Júri Internacional, que escolheu os vencedores do Troféu Bandeira
Paulista (uma criação da artista plástica Tomie Ohtake), nas categorias melhor
filme de ficção, Menção Honrosa para duas atrizes e Prêmio Abbas Kiarostami.
MELHOR
FILME –
- EL AMPARO, (EL AMPARO) de Rober Calzadilla.
| 2016 │
cor│ 99 min.│ Ficção│VENEZUELA.
MENÇÃO
HONROSA DO JÚRI –
- ATRIZ - MIRJANA KARANOVIC, por A BOA ESPOSA (DOBRA ZENA).
|2016 | cor
| 94min.| Ficção| SÉRVIA, BÓSNIA-HERZEGOVINA, CROÁCIA.
- ATRIZ - LENE CECILIA SPARK, por SÁMI BLOOD (SAMEBLOD).
|2016 |cor|
110min. | Ficção | SUÉCIA.
PRÊMIO
ABBAS KIAROSTAMI –
- MAAT (MAAT), de Saba Kezemi.
|2016 | cor
| 92min. | Ficção| IRÃ.
Júri
Internacional: Lita
Stantic, Vasco Pimentel, Nicolas Klotz, Jeferson De, Bette Gordon e Peter
Brosens.
PRÊMIO DO PÚBLICO
A escolha do público é feita por votação. A cada
sessão assistida o espectador recebeu uma cédula para votar com uma escala de 1
a 5, entregue sempre ao final do filme. O resultado proporcional dos filmes com
maiores pontuações é:
MELHOR
FILME DE FICÇÃO INTERNACIONAL
- THE HANDMAIDEN, de Park Chan-wook.
|2016 | cor|
145 min. | Ficção | Coréia do Sul.
MELHOR
DOCUMENTÁRIO INTERNACIONAL
- GURUMBÉ – CANCIONES DE TU MEMORIA NEGRA, de Miguel Ángel Rosales.
| 2016 | cor
| 72min. | Doc| ESPANHA.
- GAGA – O AMOR PELA DANÇA, Tomer Heymann.
|2015 | cor
| 100min.| Doc. | ISRAEL, SUÉCIA, ALEMANHA, HOLANDA.
MELHOR
FILME BRASILEIRO DE FICÇÃO – Prêmio Spcine: R$ 35 mil
- ERA O HOTEL CAMBRIDGE, de Eliane Caffé.
| 2016| cor|
93min.| Ficção| BRASIL, FRANÇA.
MELHOR
DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO – Prêmio Spcine: R$ 15 mil
- MARTÍRIO, de Vincent Carelli, de Vincent Carelli.
| 2016| cor|
160min.| Doc.| BRASIL.
PRÊMIO DA CRÍTICA
MELHOR
FILME INTERNACIONAL
- DEPOIS DA TEMPESTADE (Umi Yori Mo Mada Fukaku), de Hirokazu
Koreeda.
| 2016 │
cor│ 117 min.│ Ficção│Japão.
MELHOR
FILME BRASILEIRO
- PITANGA, (Pitanga) de Beto Brant, Camila Pitanga
|2015| cor|
90min. | doc.| Brasil.
PRÊMIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ROTEIRISTAS E
AUTORES
MELHOR
ROTEIRO DA COMPETIÇÃO NOVOS DIRETORES
- EL AMPARO, (EL AMPARO) de Rober Calzadilla.
| 2016 │
cor│ 99 min.│ Ficção│VENEZUELA.
Júri ABRA: Mariana Morgon, Paulo Weences Duarte e Lilian
Iaki
PRÊMIO DA ABRACCINE
MELHOR FILME
- A
MULHER DO PAI (MULHER
DO PAI), Cristiane Oliveira.
|2015| cor| 94min. |Ficção| BRASIL, URUGUAI.
JÚRI ABRACCINE - Humberto Silva, Luciana Veras e Willian Silveira.
JUSTIFICATIVA
Pela maneira terna e delicada no tratamento da
relação entre um pai que não enxerga, uma filha adolescente e a professora de
artes dos dois, que se insere entre os dois como presença disruptiva;
pela dimensão humana com que são tratados personagens prosaicos na
fronteira entre Brasil e Uruguai; pelo domínio de uma narrativa em que
contrastes na psique dos personagens centrais se revelam de forma sutil; pelo
equilíbrio entre estilística autoral e diálogo com o público, o prêmio
Abraccine de melhor longa-metragem de diretor estreante na 40ª Mostra de Cinema
de São Paulo vai para “Mulher do Pai”, de Cristiane Oliveira.
PRÊMIO HUMANIDADE
- ANDRZEJ WAJDA
O Prêmio Humanidade da 40ª. Mostra, que o evento
outorga todo ano a um diretor cuja obra reflete questões humanísticas, foi
homenagem póstuma ao cineasta Andrzej Wajda, que ganhou uma
retrospectiva especial, dentro do Foco Polônia. O prêmio foi entregue ao
crítico polonês Tadeusz Lubelski, que levou o troféu para a Escola Wajda.
PRÊMIO LEON CAKOFF
- MARCO BELLOCCHIO
- WILLIAM FRIEDKIN
- ANTÔNIO PITANGA
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