sexta-feira, 4 de novembro de 2016

OS PREMIADOS DA 40a. MOSTRA


Antonio Carlos Egypto

Reproduzo abaixo a listagem dos premiados da 40ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, conforme enviado pelo setor de comunicação do evento, numa versão simplificada, mas onde constam todos os prêmios e algumas explicações fundamentais.

O principal premiado entre os filmes de novos diretores foi um que chegou sem fazer alarde, foi até pouco visto, porém, reúne os méritos para isso.  Foi o venezuelano EL AMPARO, primeiro longa-metragem do diretor Rober Calzadilla, que é ator, roteirista e diretor e fez sua formação em cinema na cidade de Caracas, capital do país.


EL AMPARO


O filme reconstrói uma história política assustadora, mas que infelizmente não nos parece tão estranha assim.  Conhecemos várias, similares.  Há quase trinta anos, na cidade da Venezuela, El Amparo, fronteira com a Colômbia, o exército venezuelano mata “por engano” 14 pescadores, mas cria uma narrativa que os classifica como guerrilheiros e tenta impor sua história a todos, inclusive aos dois pescadores sobreviventes do massacre.  Passaram-se vários governos e o caso se arrasta até hoje, em relação a questões relevantes não resolvidas.  Fundamental conhecer os meandros disso, mostrados por um envolvente roteiro, premiado pela Associação de Roteiristas.  A força do cinema latino-americano tem sido consistentemente registrada nas últimas Mostras, por isso não surpreenderam os prêmios agora conquistados.

A menção honrosa às atrizes dos filmes A BOA ESPOSA, da Sérvia/Bósnia/Croácia, a também diretora Mirjana Karanovic e a de SAMI BLOOD, da Suécia, Lene Cecilia Spark, é absolutamente merecida e os dois filmes são muito bons.  SAMI BLOOD expõe o preconceito, a discriminação e as duvidosas teorias raciais dos anos 1930 em cima do sangue Sami, a etnia oprimida.  Primeiro longa da diretora sueca Amanda Kernell.  A BOA ESPOSA reflete questões de gênero, mostrando bem a condição feminina e o passado terrível que a chamada guerra da Bósnia deixou para a vida das pessoas.

Entre os diretores experientes, a crítica escolheu o ótimo DEPOIS DA TEMPESTADE, do já consagrado cineasta japonês Kore-Eda (de “Pais e Filhos”, 2013, e “Nossa Irmã Mais Nova”, de 2015).  O personagem Ryota, escritor decadente e detetive particular sem rigores éticos, é um anti-herói sem caráter, mas de uma simpatia e de uma capacidade afetiva que acabam por levar as pessoas a relevarem seus comportamentos sempre inconsistentes.  Um excelente personagem, que garante o filme, que tem ainda mulheres muito bem construídas como personagens e um garoto muito bom.  Como sempre, os filmes de Kore-Eda encantam público e crítica.  Grande mérito.

Do documentário PITANGA, brilhante e engraçado, já falei aqui, na última postagem do cinema com recheio. Beto Brant e Camila Pitanga foram os diretores do melhor filme brasileiro da Mostra pela crítica.

O público aprovou e premiou o novo filme do diretor da Coreia do Sul, Park-Chan-Wook, THE HANDMAIDDEN.  Eu também gostei do trabalho, visualmente bonito e com uma trama cheia de reviravoltas, do tipo quem engana quem e quem é o ingênuo aqui.  Um pouco longo e violento, em vários sentidos, mas produz boa diversão.

GAGA -O AMOR PELA DANÇA


GAGA - O AMOR PELA DANÇA, documentário de Israel, também cativou o público.  Mostra o mundo criativo, métodos, ensaios, apresentações do coreógrafo Ohad Naharin, e muito material de arquivo do trabalho da Companhia de Dança Batshava, de Tel-Aviv.  O filme de Tomer Heymann respira dança contemporânea, mas não deixa de abordar as questões políticas aí envolvidas.

Dos outros filmes que constam da lista, não posso falar, porque ainda não vi.


 TROFÉU BANDEIRA PAULISTA 2016

PRÊMIO DO JÚRI INTERNACIONAL                                                                                    
Após serem exibidos na 40ª Mostra, os filmes da seção Competição Novos Diretores mais votados pelo público foram submetidos ao Júri Internacional, que escolheu os vencedores do Troféu Bandeira Paulista (uma criação da artista plástica Tomie Ohtake), nas categorias melhor filme de ficção, Menção Honrosa para duas atrizes e Prêmio Abbas Kiarostami.
MELHOR FILME –
  • EL AMPARO, (EL AMPARO) de Rober Calzadilla.
| 2016 │ cor│ 99 min.│ Ficção│VENEZUELA. 
MENÇÃO HONROSA DO JÚRI –
  • ATRIZ - MIRJANA KARANOVIC, por A BOA ESPOSA (DOBRA ZENA).
|2016 | cor | 94min.| Ficção| SÉRVIA, BÓSNIA-HERZEGOVINA, CROÁCIA. 
  • ATRIZ - LENE CECILIA SPARK, por SÁMI BLOOD (SAMEBLOD).
|2016 |cor| 110min. | Ficção | SUÉCIA. 
PRÊMIO ABBAS KIAROSTAMI  –
  • MAAT (MAAT), de Saba Kezemi.
|2016 | cor | 92min. | Ficção| IRÃ. 
Júri Internacional: Lita Stantic, Vasco Pimentel, Nicolas Klotz, Jeferson De, Bette Gordon e Peter Brosens.

PRÊMIO DO PÚBLICO                                                                                                            
A escolha do público é feita por votação. A cada sessão assistida o espectador recebeu uma cédula para votar com uma escala de 1 a 5, entregue sempre ao final do filme. O resultado proporcional dos filmes com maiores pontuações é: 
MELHOR FILME DE FICÇÃO INTERNACIONAL
  • THE HANDMAIDEN, de Park Chan-wook.
|2016 | cor| 145 min. | Ficção | Coréia do Sul.
MELHOR DOCUMENTÁRIO INTERNACIONAL
  • GURUMBÉ – CANCIONES DE TU MEMORIA NEGRA, de Miguel Ángel Rosales.
| 2016 | cor | 72min. | Doc| ESPANHA. 
  • GAGA – O AMOR PELA DANÇA, Tomer Heymann.
|2015 | cor | 100min.| Doc. | ISRAEL, SUÉCIA, ALEMANHA, HOLANDA.
MELHOR FILME BRASILEIRO DE FICÇÃO – Prêmio Spcine: R$ 35 mil
  • ERA O HOTEL CAMBRIDGE, de Eliane Caffé.
| 2016| cor| 93min.| Ficção| BRASIL, FRANÇA.
MELHOR DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO – Prêmio Spcine: R$ 15 mil
  • MARTÍRIO, de Vincent Carelli, de Vincent Carelli.
| 2016| cor| 160min.| Doc.| BRASIL.

PRÊMIO DA CRÍTICA                                                                                                         
MELHOR FILME INTERNACIONAL
  • DEPOIS DA TEMPESTADE (Umi Yori Mo Mada Fukaku), de Hirokazu Koreeda.
| 2016 │ cor│ 117 min.│ Ficção│Japão.
MELHOR FILME BRASILEIRO
  • PITANGA, (Pitanga) de Beto Brant, Camila Pitanga
|2015| cor| 90min. | doc.| Brasil.

PRÊMIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ROTEIRISTAS E AUTORES          
MELHOR ROTEIRO DA COMPETIÇÃO NOVOS DIRETORES 
  • EL AMPARO, (EL AMPARO) de Rober Calzadilla.
| 2016 │ cor│ 99 min.│ Ficção│VENEZUELA.
Júri ABRA: Mariana Morgon, Paulo Weences Duarte e Lilian Iaki 

PRÊMIO DA ABRACCINE                                                                                            
MELHOR FILME
  • A MULHER DO PAI (MULHER DO PAI), Cristiane Oliveira.
|2015| cor| 94min. |Ficção| BRASIL, URUGUAI. 
JÚRI ABRACCINE - Humberto Silva, Luciana Veras e Willian Silveira.

JUSTIFICATIVA
Pela maneira terna e delicada no tratamento da relação entre um pai que não enxerga, uma filha adolescente e a professora de artes dos dois, que se insere entre os dois como presença disruptiva;  pela dimensão humana com que são tratados personagens prosaicos na fronteira entre Brasil e Uruguai; pelo domínio de uma narrativa em que contrastes na psique dos personagens centrais se revelam de forma sutil; pelo equilíbrio entre estilística autoral e diálogo com o público, o prêmio Abraccine de melhor longa-metragem de diretor estreante na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo vai para “Mulher do Pai”, de Cristiane Oliveira.

PRÊMIO HUMANIDADE                                                                                         
  • ANDRZEJ WAJDA
O Prêmio Humanidade da 40ª. Mostra, que o evento outorga todo ano a um diretor cuja obra reflete questões humanísticas, foi homenagem póstuma ao cineasta Andrzej Wajda, que ganhou uma retrospectiva especial, dentro do Foco Polônia. O prêmio foi entregue ao crítico polonês Tadeusz  Lubelski, que levou o troféu para a Escola Wajda.

 PRÊMIO LEON CAKOFF                                                                                          
  • MARCO BELLOCCHIO  
  • WILLIAM FRIEDKIN 
  • ANTÔNIO PITANGA




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