Antonio Carlos
Egypto
Num festival como a 40ª. Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo, que exibiu 322 filmes, como fazer um balanço? Eu vi bastante este ano. Foram 58 filmes, sendo 54 longas e 4
curtas. Entretanto, muitas outras
pessoas que também viram muita coisa fizeram uma seleção muito diferente da
minha. É aquela história: uns veem a
tromba, outros, as pernas ou o rabo, mas ninguém consegue ver o elefante. Em todo caso, não vou me furtar a destacar o
que foi mais importante dentro do que eu pude ver. Por sinal, em postagens anteriores, já
comentei vários filmes da Mostra.
Não faltaram bons filmes, mas, para mim, não houve
nenhuma grande surpresa. Alguns dos
melhores que foram exibidos são produções caras, destinadas a um público mais
amplo do que os chamados filmes experimentais, de reflexão, de arte. E que já estão, ou em breve estarão, no
circuito exibidor.
THE HANDMAIDEN |
ELLE, de Paul Verhoeven, ANIMAIS NOTURNOS, de Tom
Ford, BELOS SONHOS, de Marco Bellocchio, DEPOIS DA TEMPESTADE, de Hirokazu
Kore-Eda, O IGNORANTE, de Paul Vecchiali, A GAROTA DESCONHECIDA, dos irmãos Dardenne,
O PLANO DE MAGGIE, de Rebecca Miller, e THE HANDMAIDEN, de Park-Chan-Wook, já
foram comentados aqui.
13 MINUTOS, de Oliver Hirschbiegel, o mesmo diretor
de “A Queda – Os Últimos Dias de Hitler”, foca agora Hitler pela ótica do
carpinteiro Georg Elser, que em 1939 tentou mudar a história e assassinar o
ditador, instalando com sucesso uma bomba no local onde ele fez um
discurso. Errou por 13 minutos. Foi alguém
que enxergou tudo que estava ainda por vir e resolveu agir antes de que fosse
tarde. O filme já está nos cinemas e
merece ser visto.
13 MINUTOS |
O APARTAMENTO, do já conhecido e respeitado cineasta
iraniano Asghar Farhadi, também estará brevemente nos cinemas. Ele volta a lidar com um dilema moral. Filma bem e nos apresenta uma fotografia
exuberante, luminosa. Mas há alguns
excessos comportamentais e na evolução da narrativa que merecem reparo. Ainda assim, belo filme.
MA’ROSA, do filipino Brillante Mendoza, já também
conhecido do público, é um trabalho forte, que lida com pobreza, crime, prisão,
polícia e corrupção. A estrutura, toda
montada na captação de dinheiro por uma causa, é muito similar à do seu outro
trabalho, “Lola”, de 2009, o que compromete um pouco o filme. Mas funciona.
ZERO DAYS |
ZERO DAYS, de Alex Gibney, é um filme verborrágico
que cansa pelo excesso de palavras, mas nos mostra uma coisa muito grave: a
guerra cibernética é um fato presente e altamente destruidor. Assustador. Vale conferir.
MORTE EM SARAJEVO, de Danis Tanovic, da Bósnia, com
prêmios importantes em Berlim, também deve ser lançado. As tensões do Hotel Europa, preparando uma
festa de gala para lembrar o assassinato do arquiduque Ferdinando na Primeira
Guerra Mundial, trata com ironia dos conflitos insolúveis e do colapso da União
Europeia.
Os documentários GAGA – O AMOR PELA DANÇA, de Tomer
Heymann, MIFUNE: O ÚLTIMO SAMURAI, de Steven Okazaki, e PITANGA, de Beto Brant
e Camila Pitanga, devem aportar logo nos cinemas. Assim como a comédia O REI
DOS BELGAS, de Peter Brosens e Jessica Woodworth. São bons programas cinematográficos, que já
comentei por aqui.
MARTÍRIO |
O documentário nacional MARTÍRIO, de Vincent Carelli,
aborda a política indigenista dos governos brasileiros junto aos índios
Guarani-Kaiowá, que sempre buscam recuperar suas terras sagradas e são tratados
como invasores. Constatamos que, de
Getúlio Vargas a Dilma Rousseff, pouca coisa mudou no massacre a que estão
sujeitas as populações indígenas frente aos interesses do agora assim chamado agronegócio. O filme é denso e informativo, embora muito
longo. Merecia uma edição mais enxuta, o
que seria mais eficaz para os seus objetivos.
Quanto aos filmes que não sabemos se entrarão no
circuito exibidor, ou quando isso possa vir a acontecer, deixo para abordar no
próximo texto.
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