terça-feira, 2 de agosto de 2016

DE LONGE TE OBSERVO


Antonio Carlos Egypto




DE LONGE TE OBSERVO (Desde Allá).  Venezuela, 2015.  Direção e roteiro: Lorenzo Vigas.  Com Alfredo Castro, Luís Silva, Jericó Montilla, Catherina Cardozo.  93 min.



“De Longe Te Observo”, da Venezuela, primeiro longa de Lorenzo Vigas, foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi exibido na 39ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com seu título original, “Desde Allá”.

O filme navega num universo em que a homossexualidade como desejo traz à tona uma série de questões e constrói uma narrativa complexa, muito forte, que surpreende.  Tem uma estrutura consistente, que inclui a realidade social dos meninos de rua, mexe e brinca com preconceitos estabelecidos.  E envereda por uma trama que tem elementos policiais e suspense.  Faz tudo isso de forma bem concatenada.





A narrativa se centra no relacionamento entre Armando (Alfredo Castro), um homem que paga para que jovens fiquem nus para ele se masturbar sem tocá-los, e Elder (Luís Silva), adolescente em situação de rua, que lidera uma gangue juvenil.  A relação se dá por meio do dinheiro, mas se estabelece de forma complicada, trazendo muitos elementos.  O dinheiro aparece como roubo, meio de agressão, chantagem, afeto ou solidariedade.  Traz mistérios que envolvem o passado de Armando e o pai dele, que entrarão nessa relação, vinculando dois personagens que, a rigor, só estariam em contato em função de interesses imediatos e fugazes.

Assim como o personagem Armando, a câmera observa as situações, passeia pela vida deles e de seus encontros, dá tempo para que entendamos o contexto e as variáveis que os envolvem, mantendo um clima seco, duro e algo misterioso.




O que está para ser revelado nunca sabemos muito bem o que é, do que se trata realmente.  A trama conta especialmente com os dois protagonistas em ótima atuação, sutil e contida, que ajudam a prender a nossa atenção para o que vai se desenrolar em camadas sucessivas.

A história original que serviu de base para o roteiro do diretor é do escritor  e roteirista mexicano Guillermo Arriaga, de trabalhos como “Babel” e “Amores Brutos”.  O filme é coproduzido pelo México.  Um belo trabalho do cinema venezuelano, que confirma a observação de um grande momento criativo para a sétima arte na América Latina.



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