Antonio Carlos
Egypto
DE LONGE TE OBSERVO (Desde Allá). Venezuela,
2015. Direção e roteiro: Lorenzo
Vigas. Com Alfredo Castro, Luís Silva,
Jericó Montilla, Catherina Cardozo. 93
min.
“De Longe Te Observo”, da Venezuela, primeiro longa
de Lorenzo Vigas, foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi
exibido na 39ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com seu título
original, “Desde Allá”.
O filme navega num universo em que a homossexualidade
como desejo traz à tona uma série de questões e constrói uma narrativa
complexa, muito forte, que surpreende.
Tem uma estrutura consistente, que inclui a realidade social dos meninos
de rua, mexe e brinca com preconceitos estabelecidos. E envereda por uma trama que tem elementos
policiais e suspense. Faz tudo isso de
forma bem concatenada.
A narrativa se centra no relacionamento entre Armando
(Alfredo Castro), um homem que paga para que jovens fiquem nus para ele se
masturbar sem tocá-los, e Elder (Luís Silva), adolescente em situação de rua,
que lidera uma gangue juvenil. A relação
se dá por meio do dinheiro, mas se estabelece de forma complicada, trazendo
muitos elementos. O dinheiro aparece
como roubo, meio de agressão, chantagem, afeto ou solidariedade. Traz mistérios que envolvem o passado de
Armando e o pai dele, que entrarão nessa relação, vinculando dois personagens
que, a rigor, só estariam em contato em função de interesses imediatos e
fugazes.
Assim como o personagem Armando, a câmera observa as
situações, passeia pela vida deles e de seus encontros, dá tempo para que
entendamos o contexto e as variáveis que os envolvem, mantendo um clima seco,
duro e algo misterioso.
O que está para ser revelado nunca sabemos muito bem
o que é, do que se trata realmente. A
trama conta especialmente com os dois protagonistas em ótima atuação, sutil e
contida, que ajudam a prender a nossa atenção para o que vai se desenrolar em
camadas sucessivas.
A história original que serviu de base para o roteiro
do diretor é do escritor e roteirista
mexicano Guillermo Arriaga, de trabalhos como “Babel” e “Amores Brutos”. O filme é coproduzido pelo México. Um belo trabalho do cinema venezuelano, que
confirma a observação de um grande momento criativo para a sétima arte na
América Latina.
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