Antonio
Carlos Egypto
O REGRESSO (The
Revenant). Estados Unidos, 2015.
Direção: Alejandro González Iñárritu. Com Leonardo Di Caprio, Tom Hardy,
Domhall Gleeson, Will Poulter, Paul Anderson, Chistoffer Jones. 156 min.
Certa vez, Alfred Hitchcock comentou que no cinema se
morre facilmente, mas que matar um homem é muito mais complicado e difícil de
executar. Exemplificou isso na famosa
cena do assassinato no fogão, do filme “Cortina Rasgada”, de 1966.
O filme “O Regresso”, um dos mais fortes concorrentes
ao Oscar 2016, mostra o personagem Hugh Glass (Leonardo Di Caprio) com sete
vidas, ou seja, sobrevivendo a tudo, ao impossível, ao inimaginável. O regresso do título se refere ao retorno à
vida após a morte iminente, decretada, com direito até à cova e à terra por
cima do corpo. Sobreviver significa uma
luta sem tréguas, uma tenacidade, uma disposição de espírito invejável, nas
condições mais adversas.
Trata-se, na narrativa, de um explorador/caçador nas
florestas selvagens norte-americanas, convivendo com exploradores rivais e suas
armas de fogo, grupos indígenas e suas flechas, com um inverno cruel, de tão rigoroso,
e com os animais na selva, ursos, entre eles.
E, claro, com a cobiça e a competitividade humanas, em seus aspectos
mais agressivos.
É uma aventura épica de sobrevivência das mais
incríveis e viscerais. Mostrada com
muita técnica e efeitos especiais, mas de forma realista, informando que se
baseia em fatos reais. Não se assemelha
às habituais batalhas ao estilo videogame,
em que a morte nunca parece uma questão real e possível de alcançar o
herói.
Aqui, não, o protagonista está em risco de vida o
tempo inteiro. Destruído, semimorto ou
renascendo das cinzas. É uma trama intensa, sofrida, violenta e, também,
sangrenta. Trata-se, porém, de um filme magnificamente bem realizado,
espetaculares movimentos de câmera exploram uma locação de grande beleza, que
nos possibilitam uma forte imersão nessa selva inóspita, que cheira a morte,
com muita ação.
A caracterização dos personagens, os figurinos, a
maquiagem e um esplêndido trabalho de som, além da música também espetacular,
do conhecido talento de Ryuchi Sakamoto, fazem de “O Regresso” um forte
espetáculo cinematográfico. Capaz de
aproveitar os recursos tecnológicos do cinema atual e de suas salas de exibição
contemporâneas.
Não por acaso, esse espetáculo foi o que recebeu mais
indicações para o Oscar. São 12, vejam
só: filme, direção, figurino, fotografia, ator e ator coadjuvante, efeitos
especiais, mixagem de som, edição de som, direção de arte, maquiagem e
edição. Já recebeu o Globo de Ouro de
melhor filme, diretor e ator. Está com
tudo, no momento.
O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu tem
uma carreira de grande prestígio no cinema norte-americano, pelos grandes
filmes que realizou e pelos prêmios já conquistados, a partir de “Amores
Brutos”, em 2000, premiado com o BAFTA, indicado ao Oscar de filme estrangeiro,
e “21 gramas”, em 2003, “Babel”, em 2006, e com “Birdman”, que levou no ano
passado os principais Oscar, de melhor filme e diretor.
Leonardo Di Caprio, que já levou o Globo de Ouro,
desta vez leva o Oscar? Bem provável, e
será merecido, sem dúvida. Aliás, até já
amadureceu demais a sua vez. Será
novamente a vez de Iñárritu no Oscar?
Vai saber. Méritos como
realização “O Regresso” tem, especialmente se o olharmos pelo prisma do grande
espetáculo. Mas não é um filme vazio, é
uma celebração da luta pela vida, uma obsessão permanente para os humanos. Nossos tempos parecem ser especialmente
difíceis e desafiadores para essa luta, com tantas guerras, terrorismo,
intolerância religiosa e radicalizações de todos os tipos. É, portanto, bem-vinda essa celebração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário