Antonio
Carlos Egypto
OBRA. Brasil,
2014. Direção: Gregório Graziosi. Com Irandhir Santos, Lola People, Júlio
Andrade, Marku Ribas. 80 min.
“Obra” é um filme paulistano que coloca a cidade de
São Paulo e sua arquitetura em primeiro plano.
Filmado em preto e branco, com uma esplêndida fotografia, destacam-se
pontos arquitetônicos da cidade, como o edifício Copan, o Conjunto Nacional, a
igreja da Consolação, a Estação Pinacoteca e muitos outros, que revelam um
ambiente tão belo quanto opressor, em seu mar de concreto. Harmonia e desarmonia convivem num espaço
urbano, em que os edifícios e as construções restringem o horizonte. São Paulo é ambiguidade e dicotomia. Amor e ódio estreitamente ligados.
Em meio a essa paisagem de metrópole, se inserem
personagens como o jovem arquiteto João Carlos (Irandhir Santos), que reavalia
sua profissão e sua relação com a esposa às vésperas do nascimento de seu
primeiro filho e está envolvido na construção de um grande projeto, num terreno
da família. É quando ele se dá conta, e é cobrado disso, de que é preciso
encarar o passado e a história que envolveu seus ascendentes. Afinal, descobrem-se vários corpos enterrados
clandestinamente por lá.
Um mote suficientemente atraente como esse poderia
dar margem à construção de uma boa história e remeter ao nosso passado
escravista, aos confrontos de classes sociais, aos tabus não encarados. Ou seja, seria preciso revolver esse passado
junto com a terra que encontrou esses corpos.
O problema é que o filme para por aí, não desenvolve a questão e frustra
a expectativa natural do público.
Claro que um filme pode ser uma obra aberta, só
levantar questões e possibilidades, mas será muito difícil envolver o
espectador dessa maneira. Na minha
opinião, “Obra” se ressente da falta de um bom roteiro, estruturando uma trama.
É bem realizado, plasticamente bonito, tem um grande
ator em cena, como é Irandhir Santos, e um bom elenco, mas a sensação é de que
algo essencial continua faltando. Ainda
assim, é uma experiência estética bem interessante.
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