quinta-feira, 19 de março de 2015

BRANCO SAI. PRETO FICA


Antonio Carlos Egypto




BRANCO SAI.  PRETO FICA.  Brasil, 2014.  Direção: Adirley Queirós.  Com Marquim do Tropa, Shockito, Dilmar Durães, DJ Jamaika, Gleide Firmino.  93 min.


Um produto da Ceilândia, de sua história, locais e personagens, e de uma visão conflituosa com uma Brasília percebida como poderosa e segregacionista.

O drama de dois homens que tiveram suas vidas enormemente prejudicadas, após a invasão pela polícia, e a repressão violenta de um Baile Black de um local chamado Quarentão.  Vamos acompanhar um homem que agora vive com uma perna mecânica e um outro, em cadeira de rodas.  As consequências terríveis estão lá, mostradas com todo realismo, mas não a cena que as gerou.  Ou mesmo o clima concreto que mantém e sustenta esse tipo de ação.




A história trágica será contada na forma de fábula, para poder criar perspectivas que não se resumam a lamentar o passado, mas possam gerar algo no futuro.  Vingança?  Reparação?  Ódio realimentado?

Para isso, o filme se vale de uma narrativa que explora até a ficção científica, além do uso da tecnologia avançada, em meio às carências visíveis da comunidade.  Busca um meio original de abordar um assunto sério e grave, mas que, por ser muito conhecido, tende a ser visto como repetitivo e não sensibilizar mais, como deveria.  Afinal, a truculência e a discriminação policiais atingem as periferias, e principalmente a população negra, não só em Brasília/Ceilândia, mas em todas as cidades brasileiras.  É assunto recorrente, banalizado até.  Está diariamente sendo mostrado por meio de imagens nos telejornais.  Daí a adequação de buscar uma nova maneira de abordar o tema.




A dificuldade é que é preciso questionar certas posturas ideológicas que, às vezes, passam por avançadas, mas que podem levar ao agravamento dos problemas.

De qualquer modo, o filme tem o mérito de trazer uma visão de quem está imerso na vida da comunidade e conhece de perto, vivencialmente, a situação.  Não é um olhar de fora, embora tenha um forte viés de radicalização. Pretender detonar as instituições que sustentam uma democracia reconquistada a duras penas não é algo que possa ser levado a sério.

“Branco sai. Preto fica” levou a grande maioria dos prêmios disponíveis do 47º. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, incluindo o Prêmio do Júri da Abraccine. Um evidente exagero.

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