Antonio Carlos
Egypto
BRANCO SAI.
PRETO FICA. Brasil, 2014. Direção: Adirley Queirós. Com Marquim do Tropa, Shockito, Dilmar
Durães, DJ Jamaika, Gleide Firmino. 93
min.
Um produto da Ceilândia, de sua história,
locais e personagens, e de uma visão conflituosa com uma Brasília percebida
como poderosa e segregacionista.
O drama de dois homens que tiveram suas vidas
enormemente prejudicadas, após a invasão pela polícia, e a repressão violenta
de um Baile Black de um local chamado Quarentão. Vamos
acompanhar um homem que agora vive com uma perna mecânica e um outro, em
cadeira de rodas. As consequências
terríveis estão lá, mostradas com todo realismo, mas não a cena que as
gerou. Ou mesmo o clima concreto que
mantém e sustenta esse tipo de ação.
A história trágica será contada na forma de
fábula, para poder criar perspectivas que não se resumam a lamentar o passado,
mas possam gerar algo no futuro.
Vingança? Reparação? Ódio realimentado?
Para isso, o filme se vale de uma narrativa
que explora até a ficção científica, além do uso da tecnologia avançada, em
meio às carências visíveis da comunidade.
Busca um meio original de abordar um assunto sério e grave, mas que, por
ser muito conhecido, tende a ser visto como repetitivo e não sensibilizar mais,
como deveria. Afinal, a truculência e a
discriminação policiais atingem as periferias, e principalmente a população
negra, não só em Brasília/Ceilândia, mas em todas as cidades brasileiras. É assunto recorrente, banalizado até. Está diariamente sendo mostrado por meio de
imagens nos telejornais. Daí a adequação
de buscar uma nova maneira de abordar o tema.
A dificuldade é que é preciso questionar
certas posturas ideológicas que, às vezes, passam por avançadas, mas que podem
levar ao agravamento dos problemas.
De qualquer modo, o filme tem o mérito de
trazer uma visão de quem está imerso na vida da comunidade e conhece de perto,
vivencialmente, a situação. Não é um
olhar de fora, embora tenha um forte viés de radicalização. Pretender detonar
as instituições que sustentam uma democracia reconquistada a duras penas não é
algo que possa ser levado a sério.
“Branco sai. Preto fica” levou a grande
maioria dos prêmios disponíveis do 47º. Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro, incluindo o Prêmio do Júri
da Abraccine. Um evidente exagero.
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