Antonio
Carlos Egypto
IDA (Ida). Polônia, 2013. Direção: Pawel Pawlikowski. Com Agata Trzebuchowska, Agata Kulesza, Dawid
Ogrodnik, Jerzy Trela. 80 min.
O filme polonês “Ida” nos presenteia com uma grande
beleza que resulta de sua aparente simplicidade e humildade. A começar pelas imagens sóbrias em preto e
branco e pelos enquadramentos que, em grande parte do tempo, colocam os
personagens na parte baixa da tela, enquanto o ambiente ocupa a maior parte da
imagem. Coisas que nos remetem a um
tempo passado e a uma dimensão que ultrapassa os desejos e possibilidades
humanos.
A história é toda centrada na figura da noviça Ida
(Agata Trzebuchowska) e suas vestes cinzentas, simples e grossas, para enfrentar
o frio. Só seu rosto pode revelar sua
beleza. Os ambientes, além de pobres e
discretos, são marcados pelo tempo fechado e pela neve. O clima é, via de regra, silencioso, para
poder dar espaço à dúvida e à reflexão.
Um filme que nos remete, ainda, à história polonesa
de dominações e opressão, com destaque para a barbárie nazista. Mas não é possível esquecer os equívocos do
regime comunista lá mantido no pós Segunda Guerra Mundial e o legado
anticomunista e conservador que Karól Wojtyla, o longevo papa polonês João
Paulo II, legou ao mundo.
O drama da noviça Ida se concentra, no entanto, na
questão da identidade. Sem família, com
apenas uma tia viva que desconhece, ela viveu toda sua existência amparada por
um convento de freiras. Sua escolha natural
será se tornar ela própria uma freira.
Mas, às vésperas de seus votos, ela é instada a conhecer suas origens
judaicas e a tragédia que acometeu sua família nas mãos dos nazistas. E, além disso, a conhecer o desejo, a
sensualidade, a dança e a bebida, coisas absolutamente distantes dela.
A identidade se constrói na sociedade e está
representada no modo pelo qual cada um se vê e se reconhece. Quem é Ida e quem pode ser Ida? Inevitavelmente, os caminhos traçados têm de
ser repensados. Qual será a identidade
resultante do choque que se estabelece com as novas revelações?
O que poderia desembocar num grande drama de tintas
fortes e histeria aqui se apresenta em tom baixo e singelo, mas profundo. São cuidadosos e econômicos 80 minutos de
projeção, que revelam seu humanismo e solidariedade às dores pessoais e
coletivas.
Belíssimo filme, já premiado em Toronto, Canadá, e em
diversos festivais europeus, aparece indicado como filme estrangeiro representando a Polônia, em
disputas como o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta. O diretor Pawel Pawlikowski, também
roteirista do filme, nasceu em Varsóvia, mas saiu da Polônia aos 14 anos e foi
estudar literatura, filosofia e cinema em Londres, onde fez carreira inicialmente
como documentarista. Já venceu o Bafta
(o Oscar britânico), com seu filme de estreia, em 2000, e novamente em 2004.
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