segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

IDA

 Antonio Carlos Egypto




IDA (Ida).  Polônia, 2013.  Direção: Pawel Pawlikowski.  Com Agata Trzebuchowska, Agata Kulesza, Dawid Ogrodnik, Jerzy Trela.  80 min.


O filme polonês “Ida” nos presenteia com uma grande beleza que resulta de sua aparente simplicidade e humildade.  A começar pelas imagens sóbrias em preto e branco e pelos enquadramentos que, em grande parte do tempo, colocam os personagens na parte baixa da tela, enquanto o ambiente ocupa a maior parte da imagem.  Coisas que nos remetem a um tempo passado e a uma dimensão que ultrapassa os desejos e possibilidades humanos.




A história é toda centrada na figura da noviça Ida (Agata Trzebuchowska) e suas vestes cinzentas, simples e grossas, para enfrentar o frio.  Só seu rosto pode revelar sua beleza.  Os ambientes, além de pobres e discretos, são marcados pelo tempo fechado e pela neve.  O clima é, via de regra, silencioso, para poder dar espaço à dúvida e à reflexão.

Um filme que nos remete, ainda, à história polonesa de dominações e opressão, com destaque para a barbárie nazista.  Mas não é possível esquecer os equívocos do regime comunista lá mantido no pós Segunda Guerra Mundial e o legado anticomunista e conservador que Karól Wojtyla, o longevo papa polonês João Paulo II, legou ao mundo.





O drama da noviça Ida se concentra, no entanto, na questão da identidade.  Sem família, com apenas uma tia viva que desconhece, ela viveu toda sua existência amparada por um convento de freiras.  Sua escolha natural será se tornar ela própria uma freira.  Mas, às vésperas de seus votos, ela é instada a conhecer suas origens judaicas e a tragédia que acometeu sua família nas mãos dos nazistas.  E, além disso, a conhecer o desejo, a sensualidade, a dança e a bebida, coisas absolutamente distantes dela.

A identidade se constrói na sociedade e está representada no modo pelo qual cada um se vê e se reconhece.  Quem é Ida e quem pode ser Ida?  Inevitavelmente, os caminhos traçados têm de ser repensados.  Qual será a identidade resultante do choque que se estabelece com as novas revelações?




O que poderia desembocar num grande drama de tintas fortes e histeria aqui se apresenta em tom baixo e singelo, mas profundo.  São cuidadosos e econômicos 80 minutos de projeção, que revelam seu humanismo e solidariedade às dores pessoais e coletivas. 

Belíssimo filme, já premiado em Toronto, Canadá, e em diversos festivais europeus, aparece indicado como  filme estrangeiro representando a Polônia, em disputas como o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta.  O diretor Pawel Pawlikowski, também roteirista do filme, nasceu em Varsóvia, mas saiu da Polônia aos 14 anos e foi estudar literatura, filosofia e cinema em Londres, onde fez carreira inicialmente como documentarista.  Já venceu o Bafta (o Oscar britânico), com seu filme de estreia, em 2000, e novamente em 2004.


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