quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

BIRDMAN


Antonio Carlos Egypto




BIRDMAN ou A Inesperada Virtude da Ignorância (Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance)Estados Unidos, 2014.  Direção, roteiro e produção: Alejandro Gonzáles Iñarritu.  Com Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward Norton, Emma Stone, Amy Ryan, Naomi Watts.  119 min.



Um ator, Riggan Thomson (Michael Keaton), se torna famoso, celebridade, por ter encarnado um super-herói – o Birdman – em três filmes.  Mas, na hora de fazer o Birdman 4, sente que o personagem está esgotado e não aguenta mais repeti-lo.  A busca pela arte versus mero entretenimento sempre se coloca para os que fazem da arte de representar um trabalho sério.

Daí para partir para uma montagem teatral cabeça ou do gênero que lida com sentimentos humanos e reflexão, o caminho parece natural.  Musical da Broadway cheio de tecnologia não serviria, seria mais do mesmo estilo superespetáculo.  Mas como lidar com o que ficou para trás, com as expectativas não correspondidas, com a crítica especializada, com colegas de profissão complicados e com a reação do público?  Definitivamente, não é fácil.  Sair de um personagem de sucesso é muito mais complicado do que entrar nele.



Essa questão, que é central no filme do diretor mexicano Alejandro Gonzáles Iñarritu, de “Babel”, em 2006, e “21 Gramas”, de 2003, mexe com toda a indústria do entretenimento de Hollywood.  Realidade e fantasia entram na história o tempo todo, criando um produto curioso e atraente.  Reflexivo, claro.  Mas muito louco, também.

“Birdman” até tem algumas cenas de ação e efeitos especiais, mas o ator-personagem é um anti-herói confuso e insatisfeito, em busca de algo mais denso para sua vida artística.  O filme é mais para quem já se encheu dessa onda de super-heróis e personagens de quadrinhos no cinema.  Ou para quem se interessa pelos bastidores da criação artística e da indústria do entretenimento.




O importante é que o filme decola, envolve, critica e, ao mesmo tempo, diverte.  Tem um ótimo elenco, em que Michael Keaton se destaca como protagonista, mas ressalte-se o papel de Edward Norton, como Mike Shiner, um ator irresponsável e desequilibrado, mas que testa seus limites e os dos outros em cena, numa entrega total.  Emma Stone faz Lesley, a filha que emerge das sombras da celebridade do pai e consegue ver o jogo em que está envolvida.  Zach Galifianakis faz Brandon, o produtor teatral que precisa arbitrar conflitos para manter a peça em cartaz e promovê-la.  E toda uma gama de personagens compõe o mundo do espetáculo. 




Forte e criativo trabalho de Iñarritu em tom de comédia e recheado de fantasia.  É, ao lado do excelente “O Grande Hotel Budapeste”, de Wes Anderson, quem recebeu mais indicações para o Oscar 2015.  Ambos apontados em nove categorias.


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