quinta-feira, 13 de novembro de 2014

VENTOS DE AGOSTO


Antonio Carlos Egypto




VENTOS DE AGOSTO.  Brasil, 2014.  Direção: Gabriel Mascaro.  Com Geová Manoel dos Santos, Dandara de Morais, Antônio José dos Santos, Maria Salvino dos Santos, Rachel Ellis.  77 min.


Um filme de contrastes, estranhamentos, relações improváveis sobre coisas e pessoas que, às vezes, produz drama ou até mesmo terror.  Mas que, de modo muito mais frequente, produz humor.  A gente se diverte pelo inusitado, pelo inesperado e pelo clima que a encenação cria.  Não há uma história condutora única, mas algumas que podem ser vistas como independentes, envolvendo os mesmos personagens, ao lado de outros que surgem, enquanto alguns desaparecem.

O espaço geográfico é uma pacata vila de pescadores e uma fazenda de coco.  Enquanto se faz pesca em alto mar e mergulho, caminhões carregam cocos, onde o casal de protagonistas também faz sexo.  Para isso, é preciso deixar espaço no veículo, essa é a senha do desejo.

Fortes tempestades assolam o local em agosto, época em que um pesquisador de ventos aparece do nada, registrando sons, o que intriga os moradores.  Mas não chega a incomodar tanto.  Muito mais incômoda é a presença de um morto, que escapa de algum modo da sina local: lá, o lugar deles é o mar.  Tanto que um mergulho pode revelar uma caveira, com dente de ouro e tudo.




A morte é uma presença constante, mas tratada sem maior cerimônia e com leveza.  Por exemplo, como conseguir que a polícia se disponha a ir retirar o cadáver que por lá apareceu, se até na cidade ela não está disponível à população?

Tudo isso pode sugerir um registro documental, etnográfico.  Mas não, é tudo ficcional, embora conte com não atores da região retratada.  Nada é puro ou visto como essência, como a nos dizer: isso não existe mais.

A personagem Shirley (Dandara de Morais) é uma moça que vive lá porque foi determinado que ela cuide da avó velhinha.  Ela o faz, mas a contragosto, gostaria de ir embora dali.  Por enquanto, passa seus dias ouvindo rock em som alto, toma sol nua, se banha de coca-cola, transa no caminhão de cocos, e a vida segue.  A própria avó está lá porque não quis sair, há muito tempo atrás, quando oportunidade havia.  E se arrepende.  Mas agradece ter a neta a cuidar dela.  Ou seja, estão deslocadas ali, embora sejam parte essencial da paisagem e da trama.  Não é o destino, são as circunstâncias.




Há a beleza, há poesia no ambiente tão próximo à natureza, há os desafios do clima, do vento, das marés.  O mar que avança não pode ser contido.  Até o cemitério de mortos, fincado na areia, não resiste.  O meio ambiente se expressa de forma poderosa.

“Ventos de Agosto” se espalha pela natureza e pelas pessoas da região e o tipo de experiências que podem viver de uma forma encantadoramente poética, mas sem ingenuidade.  Tudo se mistura, se contaminha, se rearranja o tempo todo.  Tudo é possível e nada é verdade.



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