Antonio Carlos
Egypto
VENTOS DE AGOSTO. Brasil, 2014.
Direção: Gabriel Mascaro. Com
Geová Manoel dos Santos, Dandara de Morais, Antônio José dos Santos, Maria
Salvino dos Santos, Rachel Ellis. 77
min.
Um filme de contrastes, estranhamentos,
relações improváveis sobre coisas e pessoas que, às vezes, produz drama ou até
mesmo terror. Mas que, de modo muito
mais frequente, produz humor. A gente se
diverte pelo inusitado, pelo inesperado e pelo clima que a encenação cria. Não há uma história condutora única, mas
algumas que podem ser vistas como independentes, envolvendo os mesmos
personagens, ao lado de outros que surgem, enquanto alguns desaparecem.
O espaço geográfico é uma pacata vila de
pescadores e uma fazenda de coco.
Enquanto se faz pesca em alto mar e mergulho, caminhões carregam cocos,
onde o casal de protagonistas também faz sexo.
Para isso, é preciso deixar espaço no veículo, essa é a senha do desejo.
Fortes tempestades assolam o local em agosto,
época em que um pesquisador de ventos aparece do nada, registrando sons, o que
intriga os moradores. Mas não chega a
incomodar tanto. Muito mais incômoda é a
presença de um morto, que escapa de algum modo da sina local: lá, o lugar deles
é o mar. Tanto que um mergulho pode
revelar uma caveira, com dente de ouro e tudo.
A morte é uma presença constante, mas tratada
sem maior cerimônia e com leveza. Por
exemplo, como conseguir que a polícia se disponha a ir retirar o cadáver que
por lá apareceu, se até na cidade ela não está disponível à população?
Tudo isso pode sugerir um registro documental,
etnográfico. Mas não, é tudo ficcional,
embora conte com não atores da região retratada. Nada é puro ou visto como essência, como a
nos dizer: isso não existe mais.
A personagem Shirley (Dandara de Morais) é uma
moça que vive lá porque foi determinado que ela cuide da avó velhinha. Ela o faz, mas a contragosto, gostaria de ir
embora dali. Por enquanto, passa seus
dias ouvindo rock em som alto, toma sol nua, se banha de coca-cola, transa no
caminhão de cocos, e a vida segue. A
própria avó está lá porque não quis sair, há muito tempo atrás, quando
oportunidade havia. E se arrepende. Mas agradece ter a neta a cuidar dela. Ou seja, estão deslocadas ali, embora sejam
parte essencial da paisagem e da trama.
Não é o destino, são as circunstâncias.
Há a beleza, há poesia no ambiente tão próximo
à natureza, há os desafios do clima, do vento, das marés. O mar que avança não pode ser contido. Até o cemitério de mortos, fincado na areia,
não resiste. O meio ambiente se expressa
de forma poderosa.
“Ventos de Agosto” se espalha pela natureza e
pelas pessoas da região e o tipo de experiências que podem viver de uma forma
encantadoramente poética, mas sem ingenuidade.
Tudo se mistura, se contaminha, se rearranja o tempo todo. Tudo é possível e nada é verdade.
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