Antonio
Carlos Egypto
O SEGREDO DAS ÁGUAS (Fatatsume No Mado). Japão,
2014. Direção e roteiro: Naomi
Kawase. Com Nijïro Murakami, Jun
Yoshinaga, Miyuki Matsuda, Tetta Sugimoto.
119 min.
“O Segredo das Águas” é um filme delicado e, ao mesmo
tempo, tenso, que evoca a natureza por meio de imagens lindas e impactantes da
força do mar. Ondas gigantescas se
alternam com alguns momentos serenos desse personsem especial do filme de Naomi
Kawase, que é o mar. Já foi a terra, em “A Floresta dos Lamentos”, de
2007. A natureza é a inspiração maior do
seu trabalho cinematográfico. E, por
meio dela e da forma como as pessoas interagem com o mundo, nota-se uma
dimensão ou preocupação que podemos chamar de espiritual, ligada ao
budismo. Consequentemente, vida e morte
dão o tom a todas as cenas do filme.
Dois adolescentes descobrindo a vida e o amor têm de
lidar com a morte. Ele, ao encontrar um
homem nu morto no mar, enquanto vive uma relação de ausências e distanciamento
com a mãe e sente falta do pai, que mora em Tóquio e para onde ele vai, quando
pode. Estamos na ilha Amami Oshima, no
Japão, um local que remete à conservação de tradições milenares.
Ela vive intensamente a doença e possibilidade de
morte de sua mãe, e até já pressente sua falta.
No entanto, descobre que essa mãe é xamã, portanto, depositária de
mistérios ancestrais e que está entre os humanos e os deuses. Os xamãs também morrem? Mas como ficará o relacionamento com eles, ou
seja, com a própria mãe, após a morte?
Como se vê, temas filosófico-religiosos se mesclam a
questões existenciais. Em se tratando
dos adolescentes, também há as questões sexuais e amorosas. Mas para encará-las será preciso superar
barreiras internas e julgamentos que engessam ações. Um tufão – sempre a natureza – será o
elemento deflagrador do amadurecimento, da compreensão e do afeto. Em que pesem todas as turbulências, e talvez
por causa delas, precisamos aprender a viver em paz conosco e com o mundo ao
redor, como diz a diretora Naomi Kawase.
Uma beleza de filme, em que o ritmo lento dos
orientais, especialmente aqueles que vivem numa ilha tranquila e afastada dos
grandes centros urbanos, e as sutilezas são as marcas da forma de narrar dessa
talentosa diretora japonesa, nascida em 1969, já admirada pelos frequentadores
habituais da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O bom é saber que, além de ser exibido na
38ª. Mostra, o filme será em breve exibido nos cinemas, em programação regular.
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