sábado, 1 de fevereiro de 2014

GLÓRIA

                          
                   
Antonio Carlos Egypto




GLÓRIA (Gloria).  Chile, 2013.  Direção: Sebastián Lelio.  Com Paulina García, Sergio Hernández, Diego Fontecilla, Fabiola Zamora.  110 min.


“Glória”, o filme chileno indicado pelo país ao Oscar de filme estrangeiro, tem como foco uma mulher muito viva e ativa, aos 58 anos de idade, que tenta se reinventar agora que está sozinha.  Os filhos já saíram de casa há um bom tempo.  Mas ela tem muita gana de viver e não desistiu de encontrar um homem que a complete nessa etapa de vida.

Glória (Paulina García) não se acomoda em casa, sai sozinha, pega seu carro e canta entusiasmadamente, vai tomar seu trago num bar.  Ainda que desacompanhada, vai a bailes de terceira idade para dançar.  E está sempre aberta a novos contatos.  Que, naturalmente, acabam aparecendo.  Mas, se nunca é fácil se enamorar e recomeçar uma nova vida a dois, nessa faixa de idade isso se complica um pouco mais.



Rodolfo (Sergio Hernández), ex-oficial da Marinha, sete anos mais velho do que ela,  parece o parceiro ideal para um relacionamento, mas tem lá seus problemas e não só de saúde.  Lidar com eles não será fácil, nem para Glória, nem para ele.  Mas que tal, vamos tentar?

A vida é um constante recomeçar, sempre é tempo de experimentar alguma coisa nova.  Na verdade, é a própria condição para desfrutar com gosto da existência.  O contrário disso seria aguardar o agravamento dos problemas da velhice e a morte.  É ou não é?



O filme “Glória” tem esse dinamismo da busca que sempre cabe e de algum modo se coloca.  A atriz Paulina García, estupenda, é o grande trunfo do filme.  Uma mulher de apaixonante vitalidade emana do seu trabalho, iluminando o personagem.  Não por acaso ela foi premiada no Festival de Berlim por esse desempenho.

Mas o filme não se resume a essa vitalidade ou a uma mensagem otimista.  Ele mostra as dificuldades, os problemas, as frustrações, as expectativas que não se realizam.  Viver é maravilhoso, mas também não é fácil.  Há de se ter força e persistência.  E, muitas vezes, a casa cai.  Enfim, um filme humano, realista, verdadeiro.  Que inclui cenas de sexo de pessoas já envelhecidas que diferem muito do padrão de beleza consagrado.

Tem música de muito boa qualidade, incluindo uma versão de “Águas de Março”, tocada e cantada integralmente num encontro festivo a que Glória estava presente.  A canção está muito bem apresentada, com o nosso Tom Jobim sendo lembrado e suas palavras em português cantadas com o delicioso sotaque do espanhol que se fala no Chile.



O cinema chileno tem uma produção pequena e pouco se vê dele por aqui.  É preciso que algum filme se destaque por prêmio em festival para que seja exibido no Brasil.  Até parece que o Chile está tão longe de nós, não?  Quando surge a oportunidade, é bom aproveitar.

“Glória” é um belo filme, não decepciona em nenhum aspecto.  Claro que vai agradar mais ao público maduro, que terá a oportunidade de se identificar com as situações tratadas, mas certamente os mais jovens saberão curti-lo também.  É um filme de concepção moderna e bem dirigido por Sebastián Lelio, de 40 anos de idade, que diz que procurou retratar as mulheres da geração de sua mãe, que cada vez podem viver mais e melhor.


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