Antonio Carlos Egypto
PAIS E FILHOS (Soschite
chichi ni naru). Japão, 2012. Direção e roteiro: Hirokazu Kore-Eda. Com Masaharu Fukuyama, Machiko Ono, Yoko Maki, Lily Franky. 120 min.
Troca de bebês em maternidade acontecem e causam
enormes transtornos. Imagine, então, se
essa troca só for descoberta seis anos depois do acontecido...
Os pais cuidam da criança, a educam, criam vínculos
muito fortes, estabelece-se um padrão de identidade, um tipo e estilo de vida e
de relacionamento familiar. Hábitos e
costumes se solidificam. O que
fazer? Esse é o dilema moral que o filme
“Pais e Filhos” expõe, por meio de dois casais, as duas crianças trocadas,
irmãos e familiares.
Um casal tem alto padrão de vida, um executivo que se
dedica ao trabalho prioritariamente e um modo discreto de viver. O menino em questão tem tudo de que precisa e
se dá bem com os pais. Como se pode
imaginar, nem sempre pode contar com a presença do pai, que tem muitos
compromissos. Mas isso não impede que
vivam bem, sem maiores problemas ou sobressaltos.
A outra família tem posses bem mais modestas, o
dinheiro pode fazer falta e impedir algumas coisas. A figura do pai é a de um homem simples, que
não conquistou muitas coisas em termos econômicos, nada refinado, mas muito
afetivo e brincalhão. Extremamente
disponível para os filhos.
A eventual troca, como se vê, implicará grandes
mudanças e questionamentos para todos, tanto para os pais, quanto para os
filhos. Para se chegar a uma decisão,
que terá de ser de consenso, muitas experiências serão feitas e avaliadas,
passo a passo.
O executivo, em especial, colocará em questão o seu
papel de pai, pondo em cheque a hierarquia de valores das necessidades humanas. Os dois meninos, inevitavelmente, compararão
os comportamentos, tanto paternos, quanto maternos, e as grandes diferenças que
separam as duas famílias, sem condições de avaliá-las realmente. Sofrem, têm sentimentos intensos, mas também
se divertem e descobrem coisas novas.
O dilema moral colocado pelo filme é isso: um
festival de descobertas, sem necessidade de qualquer explicação. Os personagens
bem construídos, especialmente os pais e as crianças, vivem o desafio de uma
decisão que, em qualquer sentido, será dura, cruel e, talvez, equivocada. Não há verdades, nem certo ou errado, muito
menos vilões e mocinhos. São gente de
carne e osso, tentando se entender e fazer a coisa certa. Sofrendo para tentar acertar. As diferenças de classe social são reveladas,
mas não são decisivas para a resolução do conflito. É de pessoas vivendo um drama familiar sem
precedentes que se trata.
“Pais e Filhos” é um belo trabalho do diretor
Kore-Eda, que tem se dedicado a lidar com questões atuais ligadas à família,
destacando o papel das crianças, seus desejos e limitações. Foi assim em “O Que Eu Mais Desejo”, de 2010,
ou “Ninguém Pode Saber”, de 2004.
Estamos todos, crianças ou adultos, sujeitos a perdas, o tempo
todo. O cinema de Hirokazu Kore-Eda, de
forma leve, suave e até divertida, reflete sobre isso e nos faz pensar.
“Pais e Filhos” foi um dos maiores destaques da 37ª.
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e segue, agora, sua carreira
comercial no cinema. Ótima pedida.
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