BLING
RING – A GANGUE DE HOLLYWOOD (The Bling
Ring). Estados Unidos,
2012. Direção e roteiro: Sofia
Coppola. Com Emma Watson, Taissa
Farmiga, Israel Bronssard, Claire Julien, Katie Chang. 91 min.
Somos diuturnamente bombardeados por imagens e
mensagens que nos dizem o que devemos ter, possuir, comprar. O capitalismo de consumo não tem limites, nem
ética, numa fabricação de necessidades artificiais, potencializada pela
tecnologia em constante evolução.
Consumir, consumir agora e sempre, sem limites. Como isso repercute na cabeça dos
adolescentes, ainda em formação e sem o necessário espírito crítico para
avaliar tal proposta?
Se acrescentarmos a isso a vida glamourosa, exibida
pelas celebridades, que aparentemente têm acesso a tudo de mais luxuoso e caro
que existe, teremos aí um apelo ao estilo de vida. Estilo de vida? Como assim?
Quem tem acesso real a esse tipo de vida?
Considere agora adolescentes de classe média que
moram em Los Angeles, convivendo com o mais fútil e exibido dos mundos, o das
celebridades de Hollywood, suas mansões e os objetos de grife e luxo que
cultivam e ajudam a divulgar. A sedução
está mais do que feita.
Aí a gente começa a entender os fatos reais relatados
pelo filme de Sofia Coppola, “Bling Ring – A gangue de Hollywood”. Um grupo de quatro garotas e um rapaz,
adolescentes, cometeu uma onda de crimes nas colinas de Hollywood, invadindo
casas de famosos, como Paris Hilton (que está no filme), Orlando Bloom, Rachel
Bilson e Kristen Dunst, entre outros, e roubando mais de 3 milhões de dólares
em artigos de luxo. Vestidos, sapatos,
relógios, joias, bolsas e o que mais encontravam e que os encantasse, nessas invasões,
foram sumindo em pouco tempo. Faziam
isso sem arrombar ou destruir nada.
Geralmente, entrando por portas deixadas abertas, pegando chaves sob os
capachos ou vasos de plantas, entrando por janelas. Tudo incrivelmente fácil.
Os planos também eram simples de se realizar. Bastava seguir as celebridades pela Internet,
identificar suas moradias, os eventuais sistemas de segurança, e saber de suas
vidas. Geralmente, os famosos anunciam
nas redes sociais presença em eventos como festivais de moda ou cinema, fora do
país. É fácil saber quando suas casas
estarão vazias e assim efetuar os roubos.
Claro que um dia uma filmagem de um desses roubos
poderá identificar alguns dos responsáveis.
Mas, até lá, a vida será uma festa de consumo, capaz de enganar até os
pais, pouco presentes na vida dos filhos.
Além disso, eles próprios acreditam no sonho dourado hollywoodiano que
pode trazer a glória a seus filhos.
Desse modo, fatos que parecem inacreditáveis ocorrem. E revelam o falso brilho desse glamour e do
mundo de celebridades que o realimenta.
Viver um estilo de vida de luxo e ostentação passa a
ser o grande objetivo de uma garotada inteiramente dominada por esses valores
de puro consumo. Para chegar a isso, o
caminho mais simples e direto é roubar. Até
que possa um dia cair a ficha, o
estrago já está feito. Para alguns, com
consequências para toda a vida. Mas há
quem se safe, apesar de tudo, se tiver mais grana na família e contatos
decisivos na sociedade.
O filme de Sofia Coppola, ao relatar os fatos dessa
incrível história de roubos, nos possibilita pensar sobre o que está
acontecendo aos jovens, que distorções brutais estão tomando as cabeças de
alguns deles e que papel a educação tem em todo esse processo.
Enquanto cinema, o filme não tem nada de
especialmente notável. Pelo contrário:
se estende longamente sobre os roubos, mostrando detalhes até desnecessários,
para ocupar o tempo. O relato não rende
tanto, exigiria uma discussão maior dentro do próprio filme. Por isso,
cansa um pouco, se torna algo repetitivo. Mas isso não tem grande importância. Porque o tema tratado é eloquente e dá margem
a muita discussão pós-filme.
Ou seja, a gangue do Bling Ring não tem como passar
incólume aos nossos olhos. O relato
detalhado dos fatos acaba servindo para reiterar que o que está sendo mostrado
é mesmo absurdo e que algo precisa ser feito para que coisas como essas não
continuem acontecendo. Favorece uma
visão crítica ao mundo consumista dos nossos dias. O que já é bastante.
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