sábado, 16 de fevereiro de 2013

A HORA MAIS ESCURA

                                
Antonio Carlos Egypto

A HORA MAIS ESCURA (Zero Dark Thirty).  Estados Unidos, 2012.  Direção: Kathryn Bigelow.  Com Chris Pratt, Jessica Chastain, Joel Edgenton, Frank Grillo, Scott Adkins, Jennifer Elvie.  157 min.

A caçada e morte de Osama Bin Laden, o grande inimigo público dos Estados Unidos, evidentemente acabaria sendo registrada pelo cinema americano.  Poderia trazer, entre seus elementos, a elegia da vingança, a justificativa do assassinato, a celebração patriótica de um objetivo prioritário do país alcançado, a purgação da dor associada à tragédia do World Trade Center.  Qualquer que fosse o enfoque, seria passível de críticas.  O assunto é espinhoso e polêmico.
A cineasta Kathryn Bigelow parece ter encontrado um tom apropriado para tratar do assunto: o relato seco e direto dos eventos que,ao longo dos anos, precederam a ação da tomada da casa-fortaleza do terrorista até a consumação de sua captura e morte.  O que se fez com o corpo, após a identificação, fica fora do filme.  Mas os métodos de tortura, utilizados pelos norte-americanos em prisões secretas ao redor do mundo, estão lá, mostrados repetidamente, aparentemente sem nenhum disfarce, de modo bem realista.

A contradição é óbvia: em nome da liberdade e da democracia, pode-se torturar e matar.  O que Bin Laden representava e o terror que produziu justifica esse vale-tudo? Todos nós sabemos que esses métodos sempre existiram, muito antes da comoção causada pelo monstruoso episódio de 11 de setembro de 2001.  Na América Latina, ditaduras militares sangrentas, nos anos 1960 e 1970, viscejaram com o respaldo dos governos norte-americanos de então.  O combate ao comunismo era o que justificava tudo isso, e muito mais.  Os exemplos são inúmeros, mas basta lembrar a guerra do Vietnã.

“A Hora Mais Escura” não entra nessa discussão, mas também não a evita, na medida em que mostra o que se faz, sem esconder ou idealizar as coisas.  Pode-se dizer que a protagonista Maya (Jessica Chastain), agente da CIA que conduz a narrativa do filme, é uma heroína obstinada e que a ação dos militares americanos foi bem planejada e corajosa. No filme a ação e o suspense se destacam.  Mas o bem e o mal não estão caracterizados como tais.  O tempo dos mocinhos e bandidos já passou.  Ou fica restrito ao terreno da fantasia, geralmente infantojuvenil.  Em casos como esses, ninguém sai limpo, ileso e puro.  E se há heroísmo, em alguns momentos, ele é anônimo.  Não tem rosto, nem nome.  Vira segredo de Estado.
Com “Guerra ao Terror”, de 2009, Kathryn Bigelow desbancou “Avatar” e levou o Oscar, surpreendendo muita gente.  “A Hora Mais Escura” também está na disputa do Oscar 2013.

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