Antonio Carlos Egypto
TABU. Portugal, 2012. Direção: Miguel Gomes. Com Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana
Moreira. 119 min.
“Tabu”
é uma história contada em duas partes distintas. Na primeira, vê-se o ocaso de uma senhora
idosa, temperamental, que se comporta de modo estranho e faz referência a
coisas incompreensíveis que remetem ao seu passado. Convive com uma empregada caboverdiana, seca e
lacônica, que ela crê que a persegue, e com uma vizinha dedicada a causas
sociais. Até que ficamos sabendo de um
seu antigo amor, que será o narrador da segunda parte. E aí o filme cresce, mostrando uma história
de amor e traição, que nos leva à África e remete ao clássico do cinema mudo
“Tabu”, de F. W. Murnau ,de 1930 .
A
fotografia, em preto e branco, é esmerada e merece destaque. Mas é o modo como Miguel Gomes conduz sua
narrativa e inova ao filmar o que mais interessa no filme. Há, por exemplo, cenas em que os personagens
estão em ação e falando uns com os outros, mas os sons que ouvimos são apenas
ruídos de casa ou uma pedra que cai na água.
Músicas modernas contrastam com o que se está vivendo em cena,
encobrindo eventos da narrativa ou tornando-a francamente estranha e
dissonante. Mas o sentido não se perde,
nem se confunde. A lente da câmera
recebe as gotas da chuva, o que transforma a imagem em algo irreal, que se
dissolve em desejo ou sonho.
Um
jacaré recém-nascido é um presente exótico dado à personagem Aurora (Murnau
sendo lembrado outra vez) pelo marido.
Sua fuga e consequente procura nos revela a atração sexual e a
traição. Aliás, um jacaré sempre estará
à espreita, com seus olhos arregalados.
Como
se pode ver, é um filme especial. Pode
não agradar ao público em geral, mas deve interessar aos cinéfilos. E a quem conseguir se despir de conceitos
estabelecidos e se abrir à novidade.
Quem assistiu e gostou de “Aquele Querido Mês de Agosto”, o filme do
diretor, de 2008, que foi um dos destaques da Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo daquele ano, certamente vai curtir o novo filme de Miguel Gomes. Quem não gostou, ou não gostou tanto, pode
dar uma nova chance ao cineasta, agora.
Ele é daqueles talentos que o cinema mundial revela, de tempos em
tempos, nos festivais, que tem tudo para permanecer.
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