A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (Hugo). Estados Unidos, 2011. Direção: Martin Scorsese. Com Asa Butterfield, Chloe Grace Moretz, Christopher Lee. 126 min.
Em “A Invenção de Hugo Cabret”, Martin Scorsese faz uma admirável homenagem ao cinema. Antes de mais nada, pela deslubrante filmagem em 3D, que inclui panorâmica da estação ferroviária da Paris dos anos 1920, engrenagens do grande relógio e dos trens, além de um autômato, que tem função vital na trama. A movimentação das câmeras na estação, para registrar os passageiros chegando e saindo, os trens em ação, as perseguições, o cachorrão, as lojas de flores e brinquedos, tudo é impecável. Puro deleite.
A narrativa que se centra no menino Hugo, o órfão com grande talento para consertar coisas e que busca uma mensagem do pai morto por meio de um robô, produz uma aventura suficientemente interessante para o público em geral.
Mas onde o filme brilha mais é ao contar a extraordinário trajetória de Georges Méliès, o primeiro grande cineasta da história do cinema, o inovador criador de “Viagem à Lua”, de 1902, e de centenas de filmes curtos extremamente criativos, em que a técnica recém-descoberta estava a serviço do sonho e da magia. O cinema nascia assim como uma verdadeira arte, ao mesmo tempo eminentemente popular.
Belíssima a reconstrução de cenas dos filmes de Méliès, além da oportuna inclusão de trechos originais. Para quem quiser ver os filmetes originais, há uma edição em DVD “Uma Sessão Méliès: 15 filmes de Georges Méliès”, da coleção Cultclassic, que vale a pena. É uma verdadeira revelação, para quem não conhece o trabalho desse grande pioneiro do cinema.
Scorsese também recria a famosa sessão inaugural do cinema dos Irmãos Lumière, em 1895, com a projeção de “A Chegada do Trem na Estação”, que chegava a assustar uma audiência que nunca tinha visto uma fotografia se mover. Méliès estava lá e percebeu as possibilidades que o novo recurso poderia lhe trazer e, por ser muito proativo, descobriu, também por acaso, possibilidades técnicas que geraram os recursos cinematográficos de que hoje desfrutamos.
Scorsese homenageia o cinema mudo como um todo, destacando “O Homem Mosca”, fantástico trabalho de Harold Lloyd, de 1923, cujas cenas de suspense continuam inspirando trabalhos cinematográficos desde sempre. Em um dos filmes em cartaz nos cinemas, atualmente, “À Beira do Abismo”, de 2011, dirigido por Asger Leth, em que um presidiário ameaça se atirar do alto de um hotel, há uma clara referência a uma cena famosa de Lloyd escalando espaços entre blocos retangulares da fachada de um edifício. No filme de Scorsese, Hugo Cabret fica pendurado nos ponteiros do relógio, a grande altura, como Lloyd, cartazes de “O Homem Mosca” aparecem.
Enfim, quem gosta de cinema ou conhece um pouco da sua história vai se deliciar com “Hugo”. E quem gosta de grandes espetáculos, também, já que o 3D aqui está muito bem explorado e utilizado para dar uma dimensão mágica ao cinema. A competência de Martin Scorsese, para lá de reconhecida, galga mais um degrau com a nova experiência. Pena que ele não tenha levado o Oscar de melhor diretor. Merecia. “Hugo” levou 5 Oscars que destacam a excelência técnica da produção, que é, aliás, muito evidente, basta ver surgirem as primeiras cenas.
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