Tatiana Babadobulos
Zona Verde (Green Zone). França, Estados Unidos, Espanha e Reino Unido, 2010. Direção: Paul Greengrass. Rotiero: Brian Helgeland. Com Matt Damon, Khalid Abdalla, Brendan Gleeson, Amy Ryan. 115 min.
Se o cinema nacional se cansou de mostrar filmes que tratam de sertão, violência, miséria, favela, vide “Cidade de Deus”, “Carandiru”, “Tropa de Elite”, “Central do Brasil”, o mundo não se cansa de fazer longas-metragens sobre as guerras, sejam elas no Iraque, no Vietnã, as duas mundiais e assim por diante. Entre os exemplos, “Dança com Lobos”, “Guerra ao Terror”, “A Fita Branca”, “Entre Irmãos”, “Leões e Cordeiros”, a sátira “Trovão Tropical”, além do documentário “Farenheit – 11 de Setembro”. Isso para ficar nos recentes.
Desta vez, Paul Greengrass, diretor consagrado por longas como “A Supremacia Bourne”, “O Ultimato Bourne”, “Voo United 93”, este último que trata, aliás, do ataque de 11 de Setembro sobre as Torres Gêmeas, em Nova York, volta aos cinemas nesta sexta-feira, dia 16 de abril, com “Zona Verde” (“Green Zone”). A fita é baseada no livro do iraquiano Rajiv Chandrasekaran, ex-chefe da sucursal do Washington Post de Bagdá, e conta a história da guerra no Iraque em 2003, quando o subtenente do exército americano, Roy Miller (Matt Damon), e sua equipe vão procurar armas de destruição em massa que podem ter sido guardadas por Saddam Houssein naquele país.
No entanto, com tantas disputas que existem dentro do exército, ou seja, um tenente querendo mandar mais que o outro, eles vão ter de lutar contra os próprios problemas, além de tentar encontrar o que relatórios detalhados informam existir.
Outra descoberta que o subtenente fará é que, embora o Iraque esteja em guerra, há pessoas lá dentro tentando viver com um mínimo de dignidade. E isso é reconhecido quando conhece Freddy (Khalid Abdalla, de “O Caçador de Pipas”), um iraquiano que, voluntariamente, denuncia uma reunião dos inimigos e, então, se torna o intérprete dos soldados americanos. Freddy tem uma participação fundamental para o desenrolar da trama que mostra o outro lado da guerra, pois luta por seu bem-estar e pelo de sua família uma vez que, por conta da guerra, não têm água, eletricidade etc. E ele dispara: “Não é você que vai decidir o que acontecerá aqui!”
As lentes de Greengrass, sempre bem posicionadas, apontam para onde está o acontecimento. Com tantas explosões e tiros, ele consegue retratar que estão no meio de uma guerra. O diretor, que iniciou a carreira cobrindo conflitos globais para o canal inglês ITV, visitou, durante 10 anos, países arrasados por guerras. Agora, ele filma um projeto maior, que utiliza um pano de fundo real, e um roteiro escrito por Brian Helgeland (o mesmo de “Sobre Meninos e Lobos), com base no livro de Chandrasekaran.
Este é o terceiro filme que Greengrass e Damon fazem juntos. Sem dúvida, trata-se de um ponto positivo, pois a sincronia que existe entre o ator e o diretor traz ganhos à produção e o espectador pode ter a certeza que trata-se de um ótimo filme com interpretações equivalentes. O ponto negativo é que pode parecer repetitivo.
No longa, também há participações de outros personagens, como o chefe da base da CIA (Brendan Gleeson, de “Harry Potter e a Ordem da Fênix”), a quem o subtenente confia, e a jornalista Lawrie Dayne (Amy Ryan), correspondente que passou a maior parte da carreira escrevendo sobre armas de destruição em massa.
O thriller de Greengrass prende a atenção e faz um filme sobre a guerra fora do convencional. Se “Guerra ao Terror”, de Kathryn Bigelow, foi o ganhador de seis Oscars neste ano, saiba que “Zona Verde” está, no mínimo, a um passo a frente desta produção, pois consegue mostrar, de forma mais humanizada, os soldados americanos, que lutam porque foram obrigados, deixando para trás suas famílias para, quem sabe, um dia voltar. Mostra, também, os iraquianos, que estão lá se defendendo e, nem sempre, concordam com o ponto de vista do ditador, mas precisam sobreviver e têm filhos para criar.
Se “Guerra ao Terror” é calmo, “Zona Verde” é agitado. Em ambos, no entanto, há cenas com explosões, pessoas que morrem por conta dos ataques. É preciso estômago, mas o modo como a história é contada é incrível.
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