BALANÇO DA 33ª. MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
Antonio Carlos Egypto
Como faço desde sempre, acompanhei a programação da Mostra, assistindo a pouco mais de 60 filmes. Isso me permite destacar algumas coisas muito boas lá exibidas. E como muitas delas vão entrar, ou até já estão, no circuito comercial dos cinemas, pode servir de indicação para quem não pôde ver muita coisa na Mostra.
Veteranos diretores marcaram presença com grandes filmes, como Alain Resnais, com “Ervas Daninhas”, da França (vide crítica postada em outubro/2009) e Pedro Almodóvar, com “Abraços Partidos”, da Espanha, em que ele reafirma seu universo autoral, enfatizando ainda mais a metalinguagem em sua obra. Manoel de Oliveira encanta com “Singularidades de uma Rapariga Loura”, de Portugal (vide comentário sobre a obra do diretor postado em novembro/2009). Andrzej Wajda, em “Alga Doce”, da Polônia, mostra um amor tardio e uma morte precoce na ficção, entrelaçados com história real vivida pela atriz protagonista do filme. Abbas Kiarostami inova mais uma vez com “Shirin”, do Irã, um filme que se compõe de expressões de atrizes que assistem a uma peça que nos é mostrada apenas pelo som, como uma rádionovela de antigamente. O resultado é muito bom.
Ken Loach não decepciona em “À Procura de Eric”, da Inglaterra (ver críticas postadas em outubro/2009), Marco Bellocchio conta com muita agilidade e beleza visual em “Vencer”, da Itália, uma história da amante (esposa?) e filho de Benito Mussolini, que é instigante e merece ser conhecida. Ainda mais que muito se trata de Hitler no cinema, mas pouco de Mussolini.
Destacaria ainda o trabalho do diretor Hirokazu Kore-Eda, em “Seguindo em Frente”, do Japão, drama familiar contido e filmado à moda de Ozu. Dois filmes do Oriente Médio se destacaram: “O Que Resta do Tempo”, do palestino Elia Suleiman, que trata de suas memórias familiares, ao mesmo tempo em que mostra a relação palestino-judaica com criatividade, leveza e até humor. Um feito. Muito mais pesado, mas também muito criativo, foi o israelense-libanês “Lebanon”, de Samuel Maoz, que simplesmente coloca o espectador dentro de um tanque de guerra, vendo o que soldados israelenses viam (e viviam) na guerra do Líbano, em 1982. A experiência é fantástica.
Do já veterano diretor dos Estados Unidos Paul Schrader, uma história alucinante e muito bem construída é “A Ressurreição de Adam”. Falando em estruturas bem construídas, eu apontaria, ainda, “Mother”, de Bong Joon-Ho, da Coréia do Sul. A experiência que “Polícia, Adjetivo”, de Corneliu Porumboiu, da Romênia, oferece ao público do cinema é também muito expressiva: vivencia-se o cotidiano, tedioso até, de um policial em crise de consciência. O diretor é o mesmo de “A Leste de Bucareste”, ótimo filme que está para ser lançado em DVD no próximo mês de dezembro.
Faltou abordar o filme iraniano “Ninguém Sabe dos Gatos Persas”, do competente diretor Bahman Ghobaldi, sobre a censura à música jovem no país e os absurdos pelos quais os músicos têm de passar. E, por último, a experiência criativa de Raya Martin em “Independência”, das Filipinas, fazendo um filme muito convincente, e que expõe o fazer cinematográfico, com pouquíssimos recursos. Mas este filme é experimental, assim como “Shirin”, o que torna improváveis suas exibições no circuito comercial.
Antonio Carlos Egypto
Como faço desde sempre, acompanhei a programação da Mostra, assistindo a pouco mais de 60 filmes. Isso me permite destacar algumas coisas muito boas lá exibidas. E como muitas delas vão entrar, ou até já estão, no circuito comercial dos cinemas, pode servir de indicação para quem não pôde ver muita coisa na Mostra.
Veteranos diretores marcaram presença com grandes filmes, como Alain Resnais, com “Ervas Daninhas”, da França (vide crítica postada em outubro/2009) e Pedro Almodóvar, com “Abraços Partidos”, da Espanha, em que ele reafirma seu universo autoral, enfatizando ainda mais a metalinguagem em sua obra. Manoel de Oliveira encanta com “Singularidades de uma Rapariga Loura”, de Portugal (vide comentário sobre a obra do diretor postado em novembro/2009). Andrzej Wajda, em “Alga Doce”, da Polônia, mostra um amor tardio e uma morte precoce na ficção, entrelaçados com história real vivida pela atriz protagonista do filme. Abbas Kiarostami inova mais uma vez com “Shirin”, do Irã, um filme que se compõe de expressões de atrizes que assistem a uma peça que nos é mostrada apenas pelo som, como uma rádionovela de antigamente. O resultado é muito bom.
Ken Loach não decepciona em “À Procura de Eric”, da Inglaterra (ver críticas postadas em outubro/2009), Marco Bellocchio conta com muita agilidade e beleza visual em “Vencer”, da Itália, uma história da amante (esposa?) e filho de Benito Mussolini, que é instigante e merece ser conhecida. Ainda mais que muito se trata de Hitler no cinema, mas pouco de Mussolini.
Destacaria ainda o trabalho do diretor Hirokazu Kore-Eda, em “Seguindo em Frente”, do Japão, drama familiar contido e filmado à moda de Ozu. Dois filmes do Oriente Médio se destacaram: “O Que Resta do Tempo”, do palestino Elia Suleiman, que trata de suas memórias familiares, ao mesmo tempo em que mostra a relação palestino-judaica com criatividade, leveza e até humor. Um feito. Muito mais pesado, mas também muito criativo, foi o israelense-libanês “Lebanon”, de Samuel Maoz, que simplesmente coloca o espectador dentro de um tanque de guerra, vendo o que soldados israelenses viam (e viviam) na guerra do Líbano, em 1982. A experiência é fantástica.
Do já veterano diretor dos Estados Unidos Paul Schrader, uma história alucinante e muito bem construída é “A Ressurreição de Adam”. Falando em estruturas bem construídas, eu apontaria, ainda, “Mother”, de Bong Joon-Ho, da Coréia do Sul. A experiência que “Polícia, Adjetivo”, de Corneliu Porumboiu, da Romênia, oferece ao público do cinema é também muito expressiva: vivencia-se o cotidiano, tedioso até, de um policial em crise de consciência. O diretor é o mesmo de “A Leste de Bucareste”, ótimo filme que está para ser lançado em DVD no próximo mês de dezembro.
Faltou abordar o filme iraniano “Ninguém Sabe dos Gatos Persas”, do competente diretor Bahman Ghobaldi, sobre a censura à música jovem no país e os absurdos pelos quais os músicos têm de passar. E, por último, a experiência criativa de Raya Martin em “Independência”, das Filipinas, fazendo um filme muito convincente, e que expõe o fazer cinematográfico, com pouquíssimos recursos. Mas este filme é experimental, assim como “Shirin”, o que torna improváveis suas exibições no circuito comercial.
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