sexta-feira, 2 de outubro de 2009

HERBERT DE PERTO




Antonio Carlos Egypto


HERBERT DE PERTO. Brasil, 2009. Direção: Roberto Berliner e Pedro Bronz. Montagem: Pedro Bronz. Documentário. 94 min.

O cinema brasileiro tem mostrado grande vigor na produção documental. Bons trabalhos têm ajudado a resgatar situações, fatos e figuras históricas relevantes. Por meio dos documentários, estamos deixando de ser um país que não tem ou não valoriza sua história? Parece que sim. Tanto no cinema quanto na TV, os títulos disponíveis dão para todos os gostos e os trabalhos de qualidade se multiplicam.

Uma parte importante dessa produção de documentários tem se debruçado sobre a música popular brasileira, farta, rica e festejada mundialmente. Celebrar seus grandes talentos, sua história, figuras esquecidas ou menos divulgadas do que seria desejável são objetivos que estão sendo alcançados.

A música popular brasileira é de uma grandeza e diversidade impressionantes, num padrão de qualidade raro no mundo. E dispõe de alguns gênios absolutos, que povoam nossa história musical, como Noel Rosa, Tom Jobim, Pixinguinha, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Elis Regina, João Gilberto. Quem tem tudo isso, tem um filão inesgotável a explorar. Os documentários musicais podem facilmente se tornar um gênero permanente do nosso cinema.

Um exemplar desse gênero que chega agora aos cinemas é “Herbert de Perto”, um filme que focaliza a trajetória artística e a vida de Herbert Vianna e do grupo “Paralamas do Sucesso”, destaque do rock brasileiro dos anos 1980 e 1990. Um trabalho que alcançou grande repercussão, com um sucesso que apresentou altos e baixos nessas duas décadas, mas revelou uma turma que não esmoreceu, brigou pelo espaço, buscou alternativas no exterior, quando precisou, e se reinventou continuamente, capitaneada por Herbert Vianna. Ele sabia que a parada era dura e, até se subestimando, dizia, em 1987: “Minha autoconfiança é zero. Não me acho inteligente. Minha virtude é a capacidade de trabalho (...). Tenho uma capacidade de conquista muito grande” e, um tanto profeticamente, dizia que, se por acaso, tivesse de refazer sua vida inteira do zero, começaria outra vez e conseguiria tudo de novo. O acidente de ultraleve, em 2001, que matou sua mulher e o deixou paraplégico, não foi outra coisa do que este recomeçar e levou mesmo a uma nova conquista, como o trabalho dos Paralamas de 2005 viria mostrar.

O documentário, dirigido por Roberto Berliner e Pedro Bronz, dá conta de toda essa trajetória artística e com cuidado e delicadeza passa pela tragédia e recuperação do artista, incluindo cenas da reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek de Brasília, o primeiro show para os internados do hospital e o processo de recuperação da memória, apresentando para o Herbert de hoje imagens do seu passado.

Roberto Berliner, o documentarista, é amigo e companheiro de Herbert desde o começo dos anos 1980 e foi registrando a trajetória dele e do grupo, a ponto de ter cerca de 250 horas de fitas brutas e material de arquivo. Isso lhe permitiu fazer uma edição rica e que dá conta dessa trajetória histórica, da figura humana e de seu drama maior, nos mostrando do Herbert dos primeiros tempos de Brasília e seu “Óculos” ao superador de obstáculos de hoje, que mal se reconhece na imagem dos velhos tempos.

Pedro Bronz faz uso de sua experiência como montador para dar conta de tão vasto material e consegue um equilíbrio muito bom, sem cair no didatismo nem no sentimentalismo.

Os diretores de “Herbert de Perto”, com efeito, conseguiram nos colocar cara a cara com um sujeito determinado e talentoso na sua agitada e dramática vida até aqui, com um respeito e uma elegância admiráveis. Já conheciam bem o personagem e sua história, especialmente Roberto, que já havia até produzido um documentário sobre ele para a TV, muito antes do acidente aéreo. Como testemunha ocular de toda a história e com farto material gravado e resgatado, foi possível construir agora um documentário de grande significado e amplitude sobre o homem e o artista Herbert Vianna e seus fiéis companheiros do “Paralamas do Sucesso” que, com uma dedicação imensa, contribuíram decisivamente para que essa história pudesse ter continuidade.

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