domingo, 13 de abril de 2025

A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA

Antonio Carlos Egypto

 


A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA.  Brasil, 2023. Direção: Vera Egito.  Elenco: Pâmela Germano, Gabriela Carneiro da Cunha, Caio Horowicz, Isamara Castilho, Juliana Gerais.  84 min.

 

Numa tarde de outubro de 1968, tomei um ônibus para ir à aula do curso de Ciências Sociais da USP, no prédio da rua Maria Antônia.  Faltando pouco mais de um ano de curso para concluí-lo, era uma ação minha de rotina.  Mesmo sabendo do clima tenso e de confronto que existia entre a Filosofia e o Mackenzie, de onde partiam ataques do tal CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que também agredira a peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, encenada por José Celso Martinez Corrêa, não imaginava que uma guerra campal iria se estabelecer ali, com a rua fechada pela polícia, que depois invadiria o prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP.  Conclusão, não só não assisti à aula daquele dia como não assisti a mais nenhuma aula no prédio da Maria Antônia.  Concluí o curso na Cidade Universitária.

 

Fui ver agora o filme de Vera Egito, “A Batalha da Rua Maria Antônia”, de 2023, que está em cartaz nos cinemas.  Claro que é impossível assisti-lo sem lembrar daquele período com emoção.  Eu era participante do movimento estudantil, inclusive cheguei a ser diretor cultural do DCE (Diretório Central de Estudantes) da USP, mas não entrei nessa batalha, nem podia pensar nisso.  Não só porque era impossível entrar lá naquela situação, como não seria recomendável, uma vez que eu já tinha sido detido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), no ano anterior, por tentar realizar um Congresso da UEE (União Estadual dos Estudantes), proibido, naturalmente.




O filme reconstitui ficcionalmente, em preto e branco, aqueles fatos, por meio de 21 planos-sequência numerados.  Um formato que, na realidade, não me agradou.  Além disso, o fato de não ter sido filmado realmente na rua Maria Antônia, isso teve de ser simulado, também acaba sendo um problema.  Para gerar o clima necessário, o filme criou um ambiente exagerado de faixas, cartazes, pichações, por todo lado, em todos os lugares,  que nunca correspondeu ao que eu vivi por lá.  Até porque o medo impunha limites e a vigilância e a espionagem à paisana de agentes eram algo bem real.  Coragem e desacato havia, evidentemente, mas não na magnitude que o filme apresenta, situando-os em vários dias antes do evento.  No próprio dia, as coisas devem ter-se exacerbado, é claro, inclusive acontecia uma votação importante para os estudantes.

 

Bem, mas isso à parte, “A Batalha da Rua Maria Antônia” consegue criar o clima que remete àqueles anos loucos e opressivos e à resistência do movimento estudantil à ditadura militar.  Recria fatos, situações e, principalmente, o ambiente em que os estudantes e os professores viviam, empenhados em vencer o autoritarismo, mudar o país, mudar o mundo.  Nesse sentido, é um registro importante para a história recente do Brasil, realizado por meio do cinema.

 

O esquecimento e a impunidade diante do que se viveu por 21 anos naquela ditadura são muito danosos, como se pôde constatar, ainda agora, quando uma tentativa de golpe de Estado foi arquitetada e felizmente não vingou.





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