Antonio Carlos Egypto
A
BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA. Brasil,
2023. Direção: Vera Egito. Elenco:
Pâmela Germano, Gabriela Carneiro da Cunha, Caio Horowicz, Isamara Castilho,
Juliana Gerais. 84 min.
Numa
tarde de outubro de 1968, tomei um ônibus para ir à aula do curso de Ciências
Sociais da USP, no prédio da rua Maria Antônia.
Faltando pouco mais de um ano de curso para concluí-lo, era uma ação
minha de rotina. Mesmo sabendo do clima
tenso e de confronto que existia entre a Filosofia e o Mackenzie, de onde
partiam ataques do tal CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que também
agredira a peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, encenada por José Celso Martinez
Corrêa, não imaginava que uma guerra campal iria se estabelecer ali, com a rua
fechada pela polícia, que depois invadiria o prédio da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, da USP. Conclusão,
não só não assisti à aula daquele dia como não assisti a mais nenhuma aula no
prédio da Maria Antônia. Concluí o curso
na Cidade Universitária.
Fui
ver agora o filme de Vera Egito, “A Batalha da Rua Maria Antônia”, de 2023, que
está em cartaz nos cinemas. Claro que é
impossível assisti-lo sem lembrar daquele período com emoção. Eu era participante do movimento estudantil,
inclusive cheguei a ser diretor cultural do DCE (Diretório Central de
Estudantes) da USP, mas não entrei nessa batalha, nem podia pensar nisso. Não só porque era impossível entrar lá naquela
situação, como não seria recomendável, uma vez que eu já tinha sido detido pelo
DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), no ano anterior, por tentar
realizar um Congresso da UEE (União Estadual dos Estudantes), proibido,
naturalmente.
O
filme reconstitui ficcionalmente, em preto e branco, aqueles fatos, por meio de
21 planos-sequência numerados. Um
formato que, na realidade, não me agradou.
Além disso, o fato de não ter sido filmado realmente na rua Maria Antônia,
isso teve de ser simulado, também acaba sendo um problema. Para gerar o clima necessário, o filme criou
um ambiente exagerado de faixas, cartazes, pichações, por todo lado, em todos
os lugares, que nunca correspondeu ao que
eu vivi por lá. Até porque o medo
impunha limites e a vigilância e a espionagem à paisana de agentes eram algo
bem real. Coragem e desacato havia,
evidentemente, mas não na magnitude que o filme apresenta, situando-os em
vários dias antes do evento. No próprio
dia, as coisas devem ter-se exacerbado, é claro, inclusive acontecia uma
votação importante para os estudantes.
Bem,
mas isso à parte, “A Batalha da Rua Maria Antônia” consegue criar o clima que
remete àqueles anos loucos e opressivos e à resistência do movimento estudantil
à ditadura militar. Recria fatos,
situações e, principalmente, o ambiente em que os estudantes e os professores
viviam, empenhados em vencer o autoritarismo, mudar o país, mudar o mundo. Nesse sentido, é um registro importante para
a história recente do Brasil, realizado por meio do cinema.
O
esquecimento e a impunidade diante do que se viveu por 21 anos naquela ditadura
são muito danosos, como se pôde constatar, ainda agora, quando uma tentativa de
golpe de Estado foi arquitetada e felizmente não vingou.
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