sexta-feira, 8 de março de 2024

ERVAS SECAS

Antonio Carlos Egypto

 



ERVAS SECAS ((Kuru Otlar Üstüne), Turquia, 2023.  Direção: Nuri Bilge Ceylan.  Elenco: Deniz Celiloglu, Merve Dizdar, Musab Ekici, Ece Bagci, Erdem Serocak.  197 min

 

O cineasta Nuri Bilge Ceylan é muito respeitado, admirado pelos cinéfilos pelo trabalho de alta qualidade que desenvolve. É só lembrar de “Climas” (2006), “Era uma Vez em Anatólia” (2011), “Sono de Inverno” (2014) e “A Árvore dos Frutos Selvagens” (2018).

 

Em “Ervas Secas”, personagens bem representativos aparecem.  Como um professor de cidade pequena, a escola onde atua, os alunos, os pais, os colegas e a burocracia, que dificultam uma existência mais livre e criativa.  Onde um erro pode pesar muito e as relações de poder podem se dar por coisas menores, comezinhas.  O ciúme, a maledicência, as simulações, correm soltos.  

 

Uma mulher bonita e inteligente precisa vencer não só o machismo e os preconceitos de gênero como os das pessoas com alguma deficiência, que é o caso dela. Tanto naquilo que envolve a visão de mundo e as ideologias, quanto na manifestação humanística da aceitação, da compreensão e da solidariedade.  As coisas são difíceis.  

 


Ao longo de mais de 3 horas brilhantemente conduzidas, o filme flui em consistência e beleza.  A sequência inicial nos remete à neve que se alastra no local, ocupa toda a tela, exceto por um transporte coletivo visto lá atrás e alguém que vem à frente, aos poucos, já dá toda a dimensão do filme.  

 

Essa neve, esse branco, esse frio, representam as relações humanas que não florescem, não se aquecem, não se colorem.  Fora do inverno, vigoram as ervas descoloridas. Desprezíveis, desinteressantes, sem brilho.  E... secas.  Nesse sentido, o filme é realística e simbolicamente pessimista.  

 

A fotografia nos filmes de Ceylan é sempre um espetáculo à parte.  Os enquadramentos perfeitos e as paisagens turcas escolhidas são primorosos.  É um arrebatamento visual, uma experiência muito gratificante. 

 

 

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