Antonio Carlos Egypto
O
Documentário MÁQUINA DO DESEJO, de
Joaquim Castro e Lucas Weglinski, debruçou-se ao longo de sete anos sobre um
acervo de seis décadas de registros que envolvem a história do Teatro
Oficina. Filmagens, arquivos de
cinematecas, matérias das TVs nacionais e internacionais e gravações do próprio
Oficina, proporcionam uma imersão na vida extraordinariamente criativa de José
Celso Martinez Correia e o seu Teatro, ou Te-ato, Uzyna Uzona. O Oficina não apenas revolucionou a linguagem
teatral de forma radical, como interferiu na criação musical, na arquitetura e
no urbanismo, em luta pela ecologia, contra a opressão, a censura e a ditadura,
em defesa da liberdade de criação, dos direitos humanos e da democracia. O papel do Teatro Oficina na cultura
brasileira, que remonta a 65 anos de atividades, tinha mesmo de ser lembrado,
exposto, difundido, valorizado. Isso se
tornou ainda mais urgente com a morte trágica de Zé Celso num incêndio em seu
apartamento.
Quem
acompanhou, assistiu, participou dos espetáculos sabe o quanto foi mexido por
tudo o que rolava por lá. Certamente vai
usufruir das imagens e sons desse registro documental com alegria e
saudade. Já as gerações mais novas, que
não participaram diretamente dos eventos culturais e políticos do Oficina,
terão dificuldade em compor essa extraordinária trajetória. Senti falta de algum didatismo e organização
histórica para que um público mais amplo pudesse aquilatar o que foi tudo
aquilo.
Está
tudo lá, de um modo ou de outro. De “Os
Pequenos Burgueses” a “O Rei da Vela”, “Roda Viva” e as performances de um
teatro que arrebentou a quarta parede, misturou palco e plateia, ganhou o
espaço externo, transformou o entorno, gerou solidariedade às questões urbanas
e sociais mais urgentes. Também estão lá
a prisão, a tortura e o exílio que Zé Celso transformou em vitória. Até a independência de Angola e a Revolução
dos Cravos de Portugal, filmadas pelo grupo do Oficina no exílio, estão lá
também. Enfim, é se deixar levar por uma
onda transformadora que nada foi capaz de deter, em que pese a violência que
foi empregada contra ela. Sentir o que
significou e ainda significa essa luta pela preservação de um espaço da arte e
da cultura, que ganhou uma amplitude imensa.
Participam
dessa história toda gente, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Glauber Rocha,
Rogério Sganzerla e movimentos como a Tropicália e a Antropofagia. E mais: Lina Bo Bardi, Fernanda Montenegro,
Flávio Império, Hélio Eichbauer, Elke Maravilha, Aziz Ab’Saber e também Sílvio
Santos e Paulo Maluf como contrapontos.
Ou Lula e Eduardo Suplicy como apoiadores. E, obviamente, Marcelo Drummond, Renato
Borghi, Ítala Nandi, Célia Helena, Antonio Abujamra, Dina Sfat, Bete Coelho,
Maria Alice Vergueiro. Bom, é uma lista sem fim. O Oficina mexeu com muita gente, mexeu com
tudo, com o povo todo. 109 min.
Foto que tirei após a apresentação de uma remontagem de ‘O Rei da Vela”, em
São Paulo, em 2017, com Zé Celso e Renato Borghi ao lado de Fernanda Montenegro
e Fernanda Torres.
Ontem
foi a abertura da Mostra Aruanda, que apresenta pela primeira vez em São Paulo
um panorama do novo cinema paraibano. Na
primeira sessão vimos imagens de um filme de 100 anos atrás (1923), do
paraibano Walfredo Rodrigues, que registra o carnaval nas ruas de João Pessoa e
Recife.
Em
seguida, a animação de Bruna Velden, “Era Uma Noite de São João”, abordou a
primeira vez que o nordeste não pôde fazer a tradicional festa de rua, em
função da pandemia e como driblou essa limitação.
Ao
final, nos deliciamos com “Jackson: Na Batida do Pandeiro”, documentário de
Marcus Vilar e Cacá Teixeira, que nos levou ao universo íntimo e musical do
paraibano Jackson do Pandeiro, grande artista, com sua originalidade de ritmo e
dança. A Mostra Aruanda – SP segue até o
dia 26 de julho, no Cinesesc, em sessões às 20:30 horas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário