Antonio Carlos Egypto
Chega
aos cinemas a partir de 20 de julho de 2023 uma sessão com programa duplo,
bastante curiosa por suas caraterísticas.
Reúne dois filmes distintos que têm muita coisa em comum: um
longa-metragem português e um curta brasileiro, que somam juntos 87
minutos. Ambos atuam na chave musical e
fantasia. São filmes de entretenimento que tocam em assuntos importantes, com
leveza, e um jeito um tanto inusitado de contar uma história.
FOGO
FÁTUO. Portugal, 2022. Direção de João Pedro Rodrigues. Elenco: Mauro Costa, André Cabral, Joel
Branco, Margarida Vila-Nova, Ana Bustorff.
67 min.
O novo
filme de João Pedro Rodrigues (Diretor de “O Fantasma”, de 2000, e “O
Ornitólogo”, de 2016) é uma comédia musical gay, que focaliza um rei à beira da
morte, relembrando sua juventude, quando, na condição de príncipe, decidiu ser
bombeiro para combater as queimadas que prejudicam o clima do planeta. Loiro, como costuma se associar aos príncipes
de contos de fada, encontra no corpo de bombeiros um instrutor negro, com quem
desenvolve uma relação erótica intensa, mas passageira, um fogo fátuo. E isso se dá com muita música, danças
coreografadas, corpos em intenso movimento, vivendo uma fantasia, um devaneio,
em meio a uma realidade complicada. O
tema musical central, que se repete cantando, é mesmo muito bonito e todo o score musical dançado, também. O fato de a trama se passar em 2069, quando o
rei relembra sua história, que supõe uma visão de futuro, simplesmente
acrescenta a ideia da passagem do tempo, mas esse futuro parece igual a
hoje. Um menino que brinca sem cerimônia
num leito de morte com seus objetos indica o quê? Que a morte estará banalizada no futuro? As sequências que compõem o longa estão
cheias de elementos e comportamentos bruscos ou inesperados. O diretor não adota o realismo nem a evolução
dramática. Tudo acontece de repente, sem
causa aparente e nos leva à diversão musical.
Afinal, o mundo é estranho, não é mesmo?
FANTASMA
NEON. Brasil, 2022. Direção de Leonardo Martinelli. Elenco: Dennis Pinheiro, Silvero
Pereira. 20 min.
O
curta brasileiro “Fantasma Neon” trata de um entregador de aplicativo que sonha
em ter uma moto. Esse desejo se transforma em um musical com muita dança,
intensa e vibrante. Enquanto se mostra a
precariedade dos direitos trabalhistas que envolvem o ofício dos entregadores,
a música dá o tom, a fantasia ocupa o lugar da penosa realidade e produz o entretenimento,
mas não se trata de escapismo. Até para
dançar, a turma não larga da caixa de entrega.
E as conversas não deixam dúvidas quanto à necessidade de batalhar por
mudanças. O filme ganhou o Leopardo de
Ouro de curtas no Festival de Locarno.
Foi escolhido como o melhor curta do ano pela Abraccine e venceu o
Festival de Gramado.
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