O
Festival Internacional de Documentários É TUDO VERDADE concluiu sua 28ª. edição
com a reapresentação dos longas (e curtas) vencedores da competição
internacional e nacional.
Confiança Total |
O
longa internacional escolhido pelo Júri foi o ótimo CONFIANÇA TOTAL (Total Trust),
dirigido pela chinesa Jialing Zhang, produção da Alemanha e Países Baixos. O filme nos mostra, com toda a clareza, o
Estado chinês utilizando recursos tecnológicos cada vez mais avançados, para
controlar as pessoas de modo quase absoluto.
Não só pela imensidade de câmeras espalhadas por todos os cantos, mas
pelo controle exercido por elementos da vizinhança, pelas instituições que controlam
e manipulam dados de saúde, por exemplo, e os aplicam para tolher movimentos ou
entradas em locais públicos. A função de
advogado leva à provável imputação de subversão do Estado, quando o assunto é a
defesa dos direitos humanos, e por aí vai.
Em nome da suposta transparência, alcança-se amplo abuso de poder
estatal sobre as pessoas. A
contrapartida do crescimento do padrão de vida e de consumo é a perda da
liberdade? A denúncia é clara, se não
lutarmos contra a evolução do autoritarismo, na China ou em qualquer outro
lugar, passaremos a estar submetidos a ambientes assustadoramente opressores,
mesmo com a aparência da maior normalidade.
O que não é possível é ser conivente. 97 min.
O
documentário polonês, PIANO FORTE,
de Jakub Piatek, que recebeu Menção Honrosa do Júri Internacional, focaliza a
lendária Competição Internacional Chopin de Piano, que acontece a cada cinco
anos em Varsóvia. Num processo de
seleção rigorosíssimo, vão sendo eliminados, pouco a pouco, os cerca de 160
concorrentes selecionados, até chegar aos
10 melhores. Uma competição que
gera muita tensão, ansiedade, exige dedicação extrema e produz,
consequentemente, decepção e frustração.
O filme acompanhou alguns candidatos e candidatas sem saber até onde
eles iriam. Retratou a realidade humana
dessa disputa, que, como qualquer disputa decisiva, é dilacerante, já que pode
garantir ou podar de vez as chances de uma carreira brilhante. Uma oportunidade que pode acontecer, talvez
com esta força, só uma vez na vida. Quem
sabe? Bem dirigido, com boa música e
honesto na compreensão psicológica dos participantes, sem fazer julgamentos, o
filme flui muito bem. 91 min.
Já que
estamos falando de música, gostaria de destacar o documentário estadunidense LITTLE RICHARD – EU SOU TUDO (Little Richard – I am everything), que
celebra a empolgante trajetória do arquiteto/criador do Rock and Roll, negro, gay, cantor, dançarino e instrumentista de
grande vibração. Suas vitórias, lutas e
sofrimentos, estão bem abordados no filme dirigido por Lisa Cortez que, entre
outras coisas, destaca o embranquecimento que se tentou operar no rock, às custas de Little Richard,
promovendo Elvis Presley e Paul Anka a grandes ídolos. Mas a aura de Richard resistiu e o
reconhecimento do próprio Elvis, dos Beatles, de Mick Jagger, de Elton John e
de David Bowie, é eloquente. O homem era
uma fera, mesmo. 98 min.
O
documentário nacional premiado como melhor pelo Júri foi INCOMPATÍVEL COM A VIDA, em que a diretora Elisa Capai registra a
sua experiência de uma gravidez com a sentença de morte do feto já definida do
ponto de vista médico. E sai em busca de
outras mulheres que tiveram experiências similares. É algo trágico e muito sofrido, e também uma
questão de saúde pública, à medida em que o aborto, legal e necessário, num
caso de anencefalia, é frequentemente negado pelos hospitais e pelos
médicos. O que só aumenta a sensação de
solidão e abandono das gestantes. O
filme enfatiza o aspecto emocional do problema e dá vez e voz às mulheres que
estão imersas nessa situação. 92 min.
Incompatível com a Vida |
O
curta-metragem brasileiro premiado foi MÃRI
HI – A ÁRVORE DO SONHO, do cineasta yanomami Morzaniel Iramari, que aborda
os sonhos e experiências de sua comunidade indígena, tão sofrida e agora
doente. Mas o filme não se refere às
mazelas atuais e, sim, às características culturais do povo yanomami. 17 min.
O
curta ucraniano/polonês PTITSA, de
Alina Maksimenko, trata do relacionamento mãe e filha no período de lockdown, em função da pandemia. O que aproxima, para o bem e para o mal, quem
vivia num convívio mais distanciado. Foi
o premiado internacional. É um filme
sensível, que trata de uma questão que, de um modo ou de outro, todos tivemos
que viver. 30 min.
Esses
filmes oportunamente poderão ser vistos, pelo menos os longas, nos cinemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário