Antonio Carlos Egypto
A NOITE DO TRIUNFO (Un triomphe). França,
2020. Direção: Emmanuel Courcol. Elenco: Kad Merad, David Ayala, Lamine
Cissokho, Pierre Lottin, 106 min.
“A Noite do Triunfo” conta, em tom leve
e divertido, uma história que aconteceu de fato e que dá o que pensar.
Etienne (Kad Merad) é um ator dedicado e
competente que, no entanto, vive desempregado.
Talvez lhe falte uma oportunidade, uma chance de mostrar melhor do que é
capaz. Enquanto isso, ele se dedica ao
teatro, que é sua paixão, dirigindo uma oficina numa prisão. Poucos acreditam que a experiência vá dar em
alguma coisa palpável. Mas ele acredita
e, mesmo lidando com um grupo improvável de prisioneiros, sua disposição de
trabalho com eles é tão grande que a coisa acaba fluindo, mesmo sem muito
apoio. A tal ponto, que ele consegue
obter licenças para os presos, para encenar a peça fora da prisão, depois do
sucesso inicial. E eles se apresentam em
teatros, o que aumenta a autoestima de todos.
Se os atores eram improváveis, a peça,
mais ainda. Nada menos do que “Esperando
Godot”, de Samuel Beckett, que explora o absurdo. Etienne, porém, acha que, apesar das
dificuldades de entendimento, a situação seria a ideal. Quem melhor do que presos para fazer empatia
com personagens que esperam indefinidamente por alguém que nunca vem? Eles sabem bem o que é isso. Não esperam por alguém, mas por algo essencial,
a liberdade.
A evolução desse convívio, das
descobertas, das surpresas e o fluir do processo são o foco central do
filme. Porém, ele não para por aí,
situações inesperadas acabarão por construir um caminho original e inovador
para a trama. Um caminho que tem a ver
com a própria trajetória dos personagens e com a espera e as expectativas que a
peça encenada apresenta.
Ao mesmo tempo, promove uma discussão da
situação carcerária, da forma como os que cometeram crimes são vistos pela
sociedade e pelo sistema que os encarcera, mostrando o papel fundamental que
teria de jogar a reabilitação.
Comparando com o quadro carcerário brasileiro, o que o filme mostra é
algo bem melhor e mais aceitável. Mas a
questão que ele coloca é totalmente pertinente.
A parte final do filme, que eu não vou
comentar, é empolgante. Trata da noite
do triunfo, num luxuoso teatro em Paris.
Como será essa noite tão esperada?
O filme de Emmanuel Courcol tem uma boa
comunicação com o público, funciona como entretenimento, tem um bom
roteiro. Mesmo sem atores mais
conhecidos, tem um elenco bem consistente e vai um pouco além da pura diversão,
levanta questões que merecem atenção. É
uma produção bem cuidada e competente.
Tive a oportunidade de ver esse filme
numa sessão especial no reformado cine Bijou, na praça Roosevelt, São
Paulo. Reencontrar o Bijou, que eu já
frequentei muitas vezes no passado, à procura de bons filmes de arte, trouxe à
tona algumas boas emoções e alguma nostalgia.
A volta do Bijou, agora sob o cuidado dos Satyros, é muito bem-vinda. Enquanto alguns cinemas de rua
lamentavelmente fecham, o que acontecerá com o anexo do Itaú Augusta, outros
voltam a abrir as portas, como o velho Bijou.
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