quinta-feira, 21 de abril de 2022

A NOITE DO TRIUNFO

        Antonio Carlos Egypto

 




A NOITE DO TRIUNFO (Un triomphe).  França, 2020.  Direção: Emmanuel Courcol.  Elenco: Kad Merad, David Ayala, Lamine Cissokho, Pierre Lottin,  106 min.

 

“A Noite do Triunfo” conta, em tom leve e divertido, uma história que aconteceu de fato e que dá o que pensar.

 

Etienne (Kad Merad) é um ator dedicado e competente que, no entanto, vive desempregado.  Talvez lhe falte uma oportunidade, uma chance de mostrar melhor do que é capaz.  Enquanto isso, ele se dedica ao teatro, que é sua paixão, dirigindo uma oficina numa prisão.  Poucos acreditam que a experiência vá dar em alguma coisa palpável.  Mas ele acredita e, mesmo lidando com um grupo improvável de prisioneiros, sua disposição de trabalho com eles é tão grande que a coisa acaba fluindo, mesmo sem muito apoio.  A tal ponto, que ele consegue obter licenças para os presos, para encenar a peça fora da prisão, depois do sucesso inicial.  E eles se apresentam em teatros, o que aumenta a autoestima de todos.

 

Se os atores eram improváveis, a peça, mais ainda.  Nada menos do que “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, que explora o absurdo.  Etienne, porém, acha que, apesar das dificuldades de entendimento, a situação seria a ideal.  Quem melhor do que presos para fazer empatia com personagens que esperam indefinidamente por alguém que nunca vem?  Eles sabem bem o que é isso.  Não esperam por alguém, mas por algo essencial, a liberdade.

 

A evolução desse convívio, das descobertas, das surpresas e o fluir do processo são o foco central do filme.  Porém, ele não para por aí, situações inesperadas acabarão por construir um caminho original e inovador para a trama.  Um caminho que tem a ver com a própria trajetória dos personagens e com a espera e as expectativas que a peça encenada apresenta.

 




Ao mesmo tempo, promove uma discussão da situação carcerária, da forma como os que cometeram crimes são vistos pela sociedade e pelo sistema que os encarcera, mostrando o papel fundamental que teria de jogar a reabilitação.  Comparando com o quadro carcerário brasileiro, o que o filme mostra é algo bem melhor e mais aceitável.  Mas a questão que ele coloca é totalmente pertinente.

 

A parte final do filme, que eu não vou comentar, é empolgante.  Trata da noite do triunfo, num luxuoso teatro em Paris.  Como será essa noite tão esperada?

 

O filme de Emmanuel Courcol tem uma boa comunicação com o público, funciona como entretenimento, tem um bom roteiro.  Mesmo sem atores mais conhecidos, tem um elenco bem consistente e vai um pouco além da pura diversão, levanta questões que merecem atenção.  É uma produção bem cuidada e competente.

 

Tive a oportunidade de ver esse filme numa sessão especial no reformado cine Bijou, na praça Roosevelt, São Paulo.  Reencontrar o Bijou, que eu já frequentei muitas vezes no passado, à procura de bons filmes de arte, trouxe à tona algumas boas emoções e alguma nostalgia.  A volta do Bijou, agora sob o cuidado dos Satyros, é muito bem-vinda.  Enquanto alguns cinemas de rua lamentavelmente fecham, o que acontecerá com o anexo do Itaú Augusta, outros voltam a abrir as portas, como o velho Bijou.



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