Antonio Carlos Egypto
MEU PAI (The Father). Reino
Unido/Estados Unidos, 2020. Direção:
Florian Zeller. Com Anthony Hopkins,
Olivia Colman, Mark Gatiss, Imogen Poots.
97 min.
O principal interesse para assistir a
“Meu Pai”, que deu o Oscar 2021 de melhor ator a Anthony Hopkins, é
precisamente o desempenho desse grande ator do cinema, o mais velho a receber a
estatueta nessa categoria.
Ele faz seu xará, Anthony, que aos 81
anos vê suas certezas rolarem ladeira abaixo.
As memórias escapam, se confundem no tempo, os espaços também se
misturam. Ele já não sabe quem é, onde
está, o que está acontecendo e por quê.
Embaralha as coisas e tenta reagir como pode ao que imagina que seja a
verdade, com a sua própria identidade posta em xeque. Não é só “quem está comigo aqui”, mas “quem
sou eu, afinal”?
Pois é, o mal de Alzheimer é
terrível. As demais demências e
escleroses decorrentes do envelhecimento não ficam atrás. Perder-se em si mesmo, perder sua identidade
e história, é algo inimaginável para quem não viveu tal coisa. É um grande desafio para um ator conseguir
passar para o espectador essa vivência.
Ela está mais dentro do que fora, na representação. Anthony Hopkins tira de letra. Seus movimentos, expressões, perplexidades,
medos e reações intensas são perfeitos.
Não deixam dúvidas, falam por si, quase sem precisar de palavras.
Quanto à narrativa, que envolve o
roteiro, edição e montagem do filme, tudo se faz para que os espectadores possam
viver e sentir como supostamente vivem e sentem os pacientes representados no
personagem de Hopkins.
Acompanhamos o filme com grande
aflição, porque nunca sabemos o que de fato está acontecendo, se esta pessoa é
ou não quem ele vê e pensa que é. Nem
onde se passa a cena ou quando, se foi antes ou depois. E o que vem em seguida de quê. Como “Meu Pai” assume o ponto de vista de
Anthony, o personagem, nós sabemos o que ele sabe, ou pensa que sabe. Sentimos o que ele sente, seja verdadeiro ou
razoável isso ou não. É um sufoco.
O mundo mental substitui o mundo real,
a imaginação assume o lugar dos fatos, mas sem se afastar do naturalismo. São personagens de carne e osso, bem reais,
os vividos pelo pai e por sua filha Anne, em ótimo desempenho de Olivia
Colman. Não se trata de fantasia
descolada da realidade, mas de confusão mental, algo totalmente palpável. Por isso mesmo, o filme nos aflige. E eu diria que aflige especialmente os
idosos. Porque o que vive Anthony é tudo
que qualquer pessoa idosa não quer que aconteça com ela.
Verdade vc falou a palavra certa afliçao e tristeza foi o que senti
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário. Mas se vir a minha resposta lembre-se de colocar seu nome no texto da próxima vez.
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