Antonio Carlos Egypto
Entre os filmes de novos diretores, de
primeiro ou segundo longas, presentes à 44ª. Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo, comento aqui alguns títulos.
MOSQUITO |
MOSQUITO, produção portuguesa, dirigida por
João Nunes Pinto, nos leva a acompanhar as andanças de um jovem soldado
português de 17 anos, que se voluntariou para servir na Primeira Guerra Mundial
e acabou perdido em terras moçambicanas, na África. Partindo desse fato, extraído de uma história
verdadeira, referente a um avô do diretor, o filme explora a passagem do real
ao alucinatório, e vice-versa, o tempo todo, criando um clima intrigante e
dando margem a sequências curiosas, audaciosas, estranhas. É uma viagem, no sentido lisérgico do termo.
120 minutos.
LIMIAR
é um média-metragem
armênio, de pouco mais de 60 minutos, dirigido por Rouzbeh Akhbbari (iraniano)
e Félix Kalmenson (russo). Assiste-se a
um cineasta à procura de sítios históricos, que remetam às origens do povo
armênio. Ele circula por belas locações
a pé e de carro, isso favorece planos gerais muito bonitos. O filme, no entanto, não chega a se realizar
como cinema. É, no máximo, preparação de
cinema. Belo de se ver é.
PANQUIACO é um documentário do Panamá, dirigido
por Ana Elena Tezera. Focaliza o Panamá
indígena, a partir de um personagem, Cebaldo, que deixou sua terra de origem e
foi viver no norte de Portugal. Mas
nunca conseguiu se desligar de sua aldeia natal. Quando volta, percebe que seu passado já não
faz parte de sua história, de sua memória.
Sua alma ficou no rio, mas se perdeu dos antepassados. Questões assim, mitos, crenças, poesia,
entram na narrativa, que segue lentamente em busca do que se perdeu. 85 minutos.
Em O PROBLEMA DE NASCER, da Áustria, dirigido por Sandra Wollner, é de
relações familiares que se trata. Vamos
assistindo a uma curiosa e talvez estranha ou, quem sabe, incestuosa relação
entre pai e filha. Mas também percebemos
que a memória é um divisor de águas entre eles, de um passado que se mostrará
traumático. É que a situação envolve uma
androide, o que altera significativamente a nossa percepção inicial. A ideia é boa, a dificuldade é que o filme é
muito escuro, um complicador para assisti-lo no computador. 94 minutos.
SUOR |
SUOR, ao contrário, é um filme muito claro
e colorido sobre Sylvia, uma treinadora de exercícios físicos, influenciadora
digital, que vende a alegria, o ritmo, as cores, a boa comida e a boa forma do
mundo fitness e tem milhões de seguidores. Qual é o reverso da medalha, quando ela está
desconectada? Fácil prever, não é? A felicidade digital é um engodo. As coisas são mais complicadas do que
isso. Mas o filme não se aprofunda muito
na questão. Produção polonesa, dirigida
pelo sueco Magnus von Horn. 105 minutos.
APENAS
MORTAIS, filme
chinês, dirigido por Liu Ze, focaliza a temática do mal de Alzheimer, que abala
o cotidiano de uma família e os planos e relacionamentos de seus membros. É correto ao mostrar o problema e a dramaticidade
que ele adquire no contexto, mas não consegue encaminhar a narrativa para um
entendimento mais claro de procedimento, soluções, saídas. Por exemplo, a incontinência urinária e o
descontrole das fezes aparecem como situações insuportáveis, insolúveis. No
entanto, não se faz uso de fraldas geriátricas, uma saída bastante exequível
para diminuir as tensões apresentadas. Até porque não se tratava de uma família
sem recursos. 96 minutos.
APENAS MORTAIS |
AL
SHAFAQ – QUANDO O CÉU SE DIVIDE,
da Suíça, da diretora Esen Isik, aborda a família Kara, de origem e convicções
muçulmanas, vivendo na Turquia e se equilibrando entre diferentes hábitos
culturais. O pai, com seu autoritarismo,
e a mãe, sendo protetora, mas sem muita eficiência, compõem o clichê da
família, que acaba por produzir a atração no filho mais jovem para o extremismo
religioso de guerra. Quando se dão
conta, será tarde. Aí, a busca do filho
pode tomar outros sentidos. Um pouco
mais de nuances poderia ajudar o filme a alcançar dimensões mais sutis do
problema. 98 minutos.
@mostrasp
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