Quatro críticas sobre documentários da 43ª.
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
HONEYLAND |
HONEYLAND.
Macedônia do Norte, 2019. Direção
e roteiro: Ljubomir Stefanov e Tamara Kotevska.
Doc. 85 min.
Um documentário de grande beleza plástica,
esse “Honeyland”. Começa por panorâmicas
e filmagens do alto de uma região isolada da Macedônia do Norte, onde vive
Hadtidze, uma mulher de cerca de 50 anos, que cuida de uma colônia de abelhas e
da mãe já idosa e doente. Uma mulher
forte e firme, que sabe o que faz e como se relacionar com a natureza e com os
animais, especialmente as abelhas. Para
preservar a produção e a natureza, ela divide sua coleta de mel meio a meio com
as abelhas, 50% para cada lado. A
simples exposição dessa vida, desse povoado, dessa beleza natural, com uma
fotografia primorosa, já valeria o filme.
E como. Mas os três anos que
foram consumidos em sua produção permitiram testemunhar a chegada de uma família
de vizinhos, com muitos filhos, 150 cabeças de gado e muito ruído. Além de uma disposição de produzir mais, que
acabará pondo em risco o equilíbrio do lugar e da vida de Hadtidze. Cada qual tentando viver à sua maneira,
porém, descobrindo os limites possíveis.
Conta-se essa história, claro, incluindo encenações, mas revelando algo
muito palpável de uma vida real. Não
parece documentário, mas é. E
espetacular. “Honeyland” concorre ao
Oscar de filme internacional, depois de haver vencido o Grande Prêmio do Júri
em documentários, em Sundance. É o
primeiro filme da Macedônia do Norte que estamos vendo, já que, com esse nome,
o país só passou a existir em 2019.
Consequência do litígio perdido frente à Grécia, que reivindicou o nome Macedônia para a região que pertence
àquele país.
A BOIA.
Argentina, 2018. Direção:
Fernando Spiner. Doc. 98 min.
No documentário “La Boya”, o diretor Fernando
Spiner retorna à sua pequena cidade litorânea e focaliza o amigo nadador e
poeta Aníbal, que lá permaneceu. Nessa
investigação, que envolve seu próprio passado, Fernando constrói um filme que é
pura poesia, como o seu retratado. A
poesia é o centro da narração e por onde avançam as ideias e as emoções, os
modos de ser e experimentar as coisas.
Mas é também uma bela poesia visual, que se vale do mar, do nado e do
significado simbólico de uma boia, para produzir belas e intensas sequências
marítimas. O filme, de fato, envolve e
sensibiliza pela sutileza, pelos detalhes, por aquilo que é menos
evidente. O que remete ao reino do
poético.
HÁLITO AZUL.
Portugal, 2018. Direção: Rodrigo
Areias. Doc. 79 min.
O documentário português “Hálito Azul” aborda
o mar, da perspectiva de sua beleza natural e dos ventos que o acompanham, na
vila Ribeira Quente, na ilha de São Miguel.
Mas o fio condutor é a vida dos pescadores, seus trabalhos, seus hábitos
e os riscos associados à pesca e à sua escassez, que podem detonar a própria
existência deles. Há quem até desdenhe
das belezas naturais do lugar, por sentir a opressão desse mar, desse vento e
dessa existência isolada e distante. A
vida, porém, tem de continuar, seguir seu rumo, mesmo que não possamos ter
controle sobre ela.
CÃES DO ESPAÇO. Áustria, 2019. Direção e roteiro: Elea Kremser e Levin
Peter. Doc. 90 min.
Foi Laika, uma cachorra de rua de Moscou, o
primeiro ser vivo a ser lançado ao espaço.
O que aconteceu com ela? E com um
chimpanzé, duas tartarugas e muitos outros cães, que serviram para testar os
riscos de o ser humano se aventurar na conquista espacial? O documentário trata do assunto com ótimo
material de arquivo e também acompanha cães de rua de Moscou em suas andanças,
caçadas, brigas ou simples busca de comida, em seu dia a dia. Aí os cães
dominam toda a cena e a câmera parece invisível para eles. A questão de como o ser humano se utiliza do
animal para seus fins, sem muito pudor, é importante. O filme, porém, se tornou cansativo para mim,
ao passar um longo tempo filmando cães de rua.
O tempo de 90 minutos parece excessivo, ou faltou uma discussão maior da
tese principal.
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