ROCKETMAN
(Rocketman). Inglaterra, 2018. Direção: Dexter Fletcher. Com Targon Egerton, Jamie Bell, Richard
Madden, John Reid, Brice Dallas Howard, Sheila Farebrothe. 121 min.
O garoto Reginald Dwight (ou Reggie) tinha
muitos problemas afetivos em família. Um
pai incapaz de abraçar e elogiar. Uma
mãe complicada e infiel. Brigas em casa,
posterior separação. O elemento salvador
seria a avó, que sempre pensou nele e o colocou para a frente, ajudando-o a
vencer a timidez que seu corpo, algo rechonchudo, só complicava. No entanto, esse garoto tinha ouvido
absoluto, uma capacidade de captar e reproduzir instantaneamente as músicas,
que logo descobriu como fazer no piano de casa.
Pô-lo para estudar música foi lapidar um diamante bruto.
Foi a partir daí, do encontro de um parceiro e
de uma descoberta pessoal de como se libertar das amarras convencionais e lidar
com a homossexualidade, que surgiu um grande astro pop: Elton John. Uma virada impressionante, uma explosão no
palco, a partir de um figurino excessivo, exagerado, muita fantasia e
imaginação levaram o músico, cantor e compositor, de imenso talento, a um
sucesso internacional retumbante. Tudo
muito turbinado.
Quando uma trajetória assim se constrói,
também cobra seu preço. Geralmente
alto. A dependência de álcool, cocaína e
outras drogas, de sexo, do próprio sucesso e da exposição pública. Passando, ainda, pela aprendizagem em
gerenciar e colocar limites na própria loucura em que se converte uma carreira
tão vertiginosa.
Tudo isso está claramente contemplado no ótimo
musical biográfico “Rocketman”, que leva o título de um de seus maiores
sucessos musicais. O trabalho
cinematográfico de Dexter Fletcher faz jus à importância do astro e, sobretudo,
à sua criação artística. Targon Egerton
vive Elton John de forma visceral, entregando-se plenamente ao papel e com perfornances empolgantes.
E o que é melhor, cantando muito bem o repertório de Elton. Com tanta música boa, acompanhada também de
danças bem coreografadas e vozes complementares, o musical se enche de brilho e
tende a conquistar o público.
Segundo o próprio biografado, o filme mostra
os baixos bem baixos e os altos, bem altos e era assim mesmo que ele
queria. De fato, “Rocketman” passa longe
de um produto chapa branca ou falseado.
Permite-se a fantasia, propõe-se épico, mas isso faz um retrato coerente
e apropriado da figura de Elton John.
É da batalha dos anos de formação, progresso e
comprometimento com as adições, não só das drogas, mas de tudo o mais, que
trata a trama. O sucesso já está todo
lá, mas a decadência pessoal também.
Curiosamente, grandes contribuições de Elton
John em questões como a prevenção da Aids, a oficialização do casamento gay e a
adoção de crianças por casais homossexuais, só são citadas nos créditos
finais. Assim como o fato de que ele
está há 28 anos sóbrio. O título de Sir
que lhe foi outorgado pela rainha da Inglaterra, nem é lembrado, só o
fato de que ela gosta de sua música é mencionado. Até os lances da moda já encontraram caminhos
mais equilibrados, não diria discretos, claro, mas um pouco mais suaves. Maturidade, velhice? A música de Elton John empolga, como sempre,
sua presença no palco é muito forte. Já
há, no entanto, muito a comemorar e rememorar, talvez ressignificar.
“Rocketman” cumpre bem esse objetivo, ao
focalizar Elton John com realismo e profundo respeito á sua música e à sua
trajetória artística e de ídolo pop.
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O
CINEMA BRASILEIRO BRILHA EM CANNES
Parabéns a Karim Aïnouz pelo prêmio principal
da Mostra “Um Certo Olhar” para A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO e para
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que dirigiram BACURAU e levaram o
prêmio do Júri. O Festival de Cannes reconhece a qualidade do cinema brasileiro
num momento infeliz, em que o atual governo desvaloriza e tenta controlar a
cultura e impõe cortes de verbas, que podem dificultar muito ou mesmo
inviabilizar a produção cinematográfica autoral nacional, que vinha a todo
vapor.
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