AS BOAS MANEIRAS. Brasil, 2017.
Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra.
Com Isabél Zuaa, Marjorie Estiano, Cida Moreira, Miguel Lobo. 135 min.
“As Boas Maneiras”, direção conjunta de
Juliana Rojas e Marco Dutra, repete a dupla que fez “Trabalhar Cansa”, em 2011,
que comentamos aqui no Cinema com Recheio, na época do lançamento. Assim como os trabalhos de Juliana em
“Sinfonia da Necrópole”, em 2014 e de Marco em “O Silêncio do Céu”, em 2015.
Aqui se repete a tendência daquele primeiro
trabalho deles, em que o realismo e as questões sociais são apresentados no
desenvolvimento da história dos personagens.
Porém, estranhezas vão tomando corpo e acabam nos levando ao terreno do
fantástico e do terror. Lá como cá, o
fantástico acaba dominando, é claro, mas não se perde nunca o pé da realidade
brasileira e seus conflitos sociais permanentes. Mostra que é possível fabular e mergulhar na
fantasia e no horror sem perder a noção de quem se é ou de que lugar se ocupa
na pirâmide social.
Duas mulheres representam esse universo
social: a enfermeira Clara, que vive na periferia, papel de Isabél Zuaa. Por conflito com seus patrões, acaba sem ter
onde morar, mas consegue um novo trabalho na casa de Ana (Marjorie
Estiano). Ana, de classe alta, está
grávida, mas é uma mulher solitária. Não
convive com marido, pai, mãe, irmãos ou qualquer outro parente, por alguma razão
misteriosa. Contrata Clara para cuidar
dela, fazer-lhe companhia e vir a ser a babá do bebê que está para nascer. Quem ela está gerando é a surpresa e a
explicação para o drama de horror que se desenvolverá. E tomará proporções gigantescas nas noites de
lua cheia.
Não é só de drama realista e de fantástico e
horror que se trata. Há também humor,
suspense e a questão da sexualidade feminina na trama. “As Boas Maneiras” é um filme que transita
pelos diversos gêneros e temas com desenvoltura.
Conta com uma equipe talentosa na sua
produção. Basta citar a montagem de
Caetano Gotardo, o diretor do ótimo “O Que se Move”, de 2013, também já
comentado por aqui. E o diretor de
fotografia, o português Rui Poças, que fez excelentes trabalhos em filmes como
“Tabu”, de Miguel Gomes, em 2012, e “O Ornitólogo”, de João Pedro Rodrigues, em
2016.
O destaque interpretativo vai para Isabél
Zuaa, atriz nascida em Lisboa, de mãe angolana e pai da Guiné Bissau, que já
havia feito “Joaquim”, de Marcelo Gomes, lançado em 2017. Mas todo o elenco está muito bem, também.
“As Boas Maneiras” foi premiado com o Leopardo
de Prata no Festival de Locarno, no Festival do Rio 2017 e em vários outros,
pelo mundo. É o reconhecimento de um
trabalho singular e criativo.
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