Antonio Carlos
Egypto
TODOS OS PAULOS DO MUNDO. Brasil, 2017.
Direção: Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira. Documentário.
80 min.
Paulo José é um dos maiores atores da história
do cinema brasileiro. Sua força
interpretativa, aliada a uma voz marcante e a uma versatilidade impressionante,
povoam o nosso cinema de grandes personagens e alguns filmes históricos. É só lembrar de “Macunaíma”, “O Padre e a
Moça”, “Todas as Mulheres do Mundo”, “Edu, Coração de Ouro”, “O Homem Nu”, “Os
Deus e os Mortos”, “O Rei da Noite”, “Ilha das Flores”. São incontáveis os trabalhos de Paulo José
que marcaram o cinema nacional desde os anos 1960. São seis décadas de atuação desse nosso
carismático ícone.
Não se pode deixar de lado, também, a
contribuição de Paulo José para o teatro.
Seu papel como integrante do renovador Teatro de Arena, nos anos 1960,
1970. E a sua participação ativa na TV,
especialmente depois que o Ato Institucional no. 5 aprofundou a opressão da
ditadura militar sobre as artes, fechando as portas que tinham sido abertas
pelo Cinema Novo e o teatro de resistência do período. Na TV, pôde fazer alguns trabalhos
importantes, que serão sempre lembrados, por terem reunido naqueles tempos
artistas de muito gabarito, que não conseguiam se expressar melhor por outros
meios.
Pois bem, Paulo José chega aos 80 anos e é
muito justo e oportuno que seja homenageado pelo cinema, para quem tanto contribuiu
e ainda contribui, mesmo enfrentando há vinte e cinco anos o mal de Parkinson,
que acabou por produzir uma perda de voz, ou melhor, uma voz mais fraca e
tímida, que se pode ouvir no documentário “Todos os Paulos do Mundo”, de
Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira.
O filme costura um vasto material de arquivo
de imagens desse trabalho magnífico do ator no cinema e também na TV, com
momentos atuais de Paulo José. E o faz
de uma forma poética, estabelecendo um vínculo entre esse legado e o autorretrato
verbal do próprio ator. Paulo José
escreve sobre aspectos importantes de sua vida e de sua arte, além de suas
reflexões sobre a cultura brasileira e esses textos são interpretados por ele e
por seus amigos e parceiros artísticos, como Fernanda Montenegro, Milton
Gonçalves, Selton Mello, Helena Ignez, Marieta Severo, Mariana Ximenes, Matheus
Nachtergaele, entre outros. Também vemos
em cena suas parcerias com Dina Sfat, Marília Pêra, Joana Fomm, Flávio
Migliaccio, José Lewgoy e tanta gente mais.
É uma profusão de talentos que preenche a tela.
Esse formato que acopla textos do próprio ator
às suas performances, sem entrevistas de outros, nem avaliações críticas de
quem quer que seja, mostra que a arte de Paulo José e seu pensamento falam por
si. A importância do sua obra salta aos
olhos, até para aqueles mais jovens que só conhecem seus trabalhos mais
recentes, como o de “O Palhaço”, dirigido por Selton Mello, em 2011, ou suas
participações na TV. Quem viveu e acompanhou
a trajetória de Paulo José tem no filme um mergulho na história cultural do
país, na realidade brasileira com suas mazelas, utopias, tragédias e alegrias.
Inevitavelmente, uma saudade e um sentido
nostálgico aparecerão. Não porque ontem
tenha sido necessariamente melhor do que hoje, mas porque o vivido foi bonito e
envolveu muita luta. Paulo José é uma
testemunha de tudo isso, numa trajetória que ele diz que foi mais marcada por
fracassos do que por sucessos. É
possível. Mas o que fica do seu trabalho
é tão denso que o que se vê é o dinamismo e a beleza de sua arte. O resto já se perdeu, ganhou novo significado
ou não importa.
PAUSA
CINEMATOGRÁFICA
Nas próximas semanas, estarei realizando uma
viagem turística que muito me interessa e, por isso, estarei ausente do cinema
com recheio. Volto em meados de
junho. Até lá.
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