quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

LADY BIRD


Antonio Carlos Egypto





LADY BIRD: A HORA DE VOAR (Lady Bird).  Estados Unidos, 2017.  Direção e roteiro: Greta Gerwig.  Com Saioirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letfs, Lucas Hedges, Timothée Chalamet.  94 min.


O começo do filme “Lady Bird: A Hora de Voar”, de Greta Gerwig, me incomodou bastante.  Num ritmo muito rápido, cheio de cortes e verborrágico à beça, parecia uma correria sem propósito de um filme que não tem muito a dizer.  Mas, felizmente, ele se acalmou e essa sensação não permaneceu.

“Lady Bird” é um filme que retrata essa realidade complicada da adolescência, em que nada parece dar certo, tudo incomoda, soa insatisfatório, “o mundo não gosta de mim”, essas coisas todas.  É assim que se sente a protagonista Christine (Saioirse Ronan), para começar, rejeitando o próprio nome e criando uma identidade mais atraente, com o apelido de Lady Bird.

Ela é da cidade de Sacramento, na Califórnia.  Pela descrição dela, um péssimo lugar para se viver.  Não tem nada que interesse a ela nem gente capaz de entendê-la ou valorizá-la.  O que, aliás, seria difícil, já que ela mesma não se valoriza.

Daí vêm os problemas com os pais, as dificuldades econômicas da família, que ela só percebe pelo que causam a ela, não aos genitores.  A mãe, Marion (a ótima Laurie Metcalf), é cobradora, controladora, mas amorosa, a seu jeito.  Como qualquer mãe, lidando com as dificuldades da realidade objetiva e do espírito derrotista de sua filha adolescente.  Já o pai, Larry (Tracy Lefts), tenta ser bom o tempo todo, em que pesem as adversidades.  É acolhedor, compreensivo, mas incapaz de preencher as necessidades afetivas da menina.  O problema dela, naturalmente, é com a mãe.  Uma duelando com a outra, em alguns aspectos, frustrando-se mutuamente. 




Enquanto isso, Christine enfrenta o desafio de entrar numa boa faculdade, com seu histórico escolar medíocre e a pouca crença que ela acha que todos têm nela.  Às vezes, comprovada por palavras, frases inoportunas, que os adultos realmente expressam.  A experiência de estudar numa escola católica até o final do ensino médio é algo que ela já não consegue tolerar mais, embora a escola até tenha estimulado a expressão de alguns dotes artísticos por parte dela.

Last but not least, é claro, vêm os meninos.  Os namoros, a perspectiva da primeira transa, a expectativa de experiência especial, que passa longe da cabeça dos rapazes.  A descoberta de que o desejo tem vários caminhos, e por aí vai.

“Lady Bird” vai, com todos esses componentes, traçando o processo de amadurecimento feminino, mostrado do ponto de vista da protagonista, a partir de um relato que tem muitos elementos autobiográficos da diretora e roteirista, Greta Gerwig, que também é atriz conhecida e produtora.  É isso, principalmente, o que faz com que o filme passe ao espectador uma sensação de autenticidade, que vai além dos clichês e dos elementos previsíveis que constituem a adolescência no gênero feminino.

“Lady Bird” está indicada a 5 Oscar: melhor filme, diretora, roteiro original, atriz e atriz coadjuvante.




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