sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

AUSÊNCIA


Antonio Carlos Egypto




AUSÊNCIA.  Brasil, 2014.  Direção: Chico Teixeira.  Com Matheus Fagundes, Irandhir Santos, Gilda Nomacce, Francisca Gavilán.  87 min.


Todo mundo precisa de afeto, ao longo de toda a vida, para poder viver bem consigo mesmo e com os outros.  Os bebês, as crianças e os jovens, se nutrem do afeto que recebem dos adultos para desenvolver autoconfiança e explorar suas capacidades e possibilidades.  Uma família acolhedora é importante para o desenvolvimento do caráter e da personalidade, em moldes saudáveis e criativos.  Na ausência dela, compensações são possíveis, claro.  Mas o processo se dá de modo mais complicado.




A ausência do pai, a incapacidade de acolhimento da mãe, condições sociais adversas, dificuldades econômicas, podem ser ingredientes alimentadores de dramas, quando não de tragédias.  É de uma realidade assim, de carências fundamentais, que trata o filme “Ausência”, de Chico Teixeira.

O protagonista é o garoto Serginho (Matheus Fagundes), de 15 anos, que, além de não encontrar o afeto básico de que precisa, tem de se virar precocemente, para sustentar a família, o que inclui cuidar de um irmão menor.  O pai sumiu.  A mãe vive à margem da vida, envolvida pelas drogas, eventualmente pela prostituição e pela incapacidade de assumir a condição materna ou o papel de provedor que toda família requer.  Na vida de Serginho, a mãe Luzia (Gilda Nomacce) é um zero à esquerda.  Pior, alguém que ele tem que suportar e escorar.




Os personagens jovens com quem Serginho convive, enquanto trabalha na feira com um tio, são Mudinho (Thiago de Matos) e Silvinha (Andréia Mayumi).  Não é muito o que ele pode extrair deles.  As carências são mais ou menos as mesmas.  As limitações, até maiores.  Mudinho não tem esse nome por acaso.

O tão necessário afeto que o menino busca pode estar na figura de um professor aberto e acolhedor, Ney (Irandhir Santos), mas que não quer assumir o papel paternal que Serginho espera dele.  O atrativo do circo poderá ser uma tábua de salvação diante da dramática constatação de que o garoto está só no mundo? 

Essa bela temática é trabalhada no filme “Ausência”, com delicadeza, sutileza e respeito pelos sentimentos dos personagens.  De modo mais evidente, nos trazendo a figura sofrida e solitária do adolescente Serginho, condenado a uma aridez de vida terrível e despertando para a sexualidade e o direito ao prazer.  Desencontrado, mas responsável como poucos o são nessa idade.  O jovem ator Matheus Fagundes encontrou o tom certo para nos transmitir a realidade do personagem.  E tem no elenco coadjuvantes de grande talento, como o ator Irandhir Santos, de muitos grandes papéis no cinema brasileiro, a atriz Gilda Nomacce e a chilena Francisca Gavilán, atriz de “Violeta Foi Para o Céu” (2012). 




É um bom trabalho esse do diretor Chico Teixeira, numa narrativa que está muito próxima do documental e centrada na questão do afeto, focalizando um universo popular de conflitos e sofrimentos, que se revelam tão verdadeiros porque se privilegia o mundo psíquico na abordagem. Os personagens que vemos aí são pessoas humanas reais, que existem, que reconhecemos.

“Ausência” venceu o Festival de Gramado 2015, recebendo Kikitos de melhor filme – júri oficial, direção, roteiro e trilha musical.

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E só para lembrar: “Chico, Artista Brasileiro”, o filme de Miguel Faria Jr. que se destacou no Festival do Rio e na 39ª. Mostra de São Paulo, já está em cartaz nos cinemas e é um programa imperdível.  Uma homenagem brilhante a Chico Buarque, com música de alta qualidade, muita informação e imagens de arquivo preciosas.





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