Antonio
Carlos Egypto
UM SENHOR ESTAGIÁRIO (The Intern). Estados
Unidos, 2015. Direção: Nancy
Meyers. Com Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo,
Anders Holm, Andrew Rannells. 121 min.
Cinema é fonte de informação, conhecimento, reflexão. E, também, de diversidade cultural. Mas não deixa de ser fonte de diversão e
entretenimento. Rir é bom e necessário. Uma boa comédia é aquela que nos faz ver, às
vezes sob um ângulo caricato ou exagerado, coisas importantes que estão à nossa
volta. É um jeito leve de abordar
questões relevantes.
“Um Senhor Estagiário” parte de uma questão bem
real. Um homem bem sucedido na vida se
aposenta, fica viúvo e chega aos 70 anos com saúde, sem saber direito o que
fazer com o tempo e se sentindo solitário e inútil. Como lidar com isso? Um problema que afeta cada vez mais gente
pelo mundo. A questão agora não é mais
sobreviver, fazer carreira, acumular coisas, é dar sentido à vida
cotidiana. Em uma palavra, se reinventar.
Cada um deve encontrar o seu caminho. No caso de Ben (Robert De Niro), a escolha
foi apresentar-se como candidato a estagiário senior numa empresa e voltar a trabalhar regularmente, levantando
cedo, cumprindo horário. E vestindo
terno e gravata, ainda que isso não seja solicitado ou necessário; é a força do
hábito. Parece um tanto ridículo, mas é
uma possibilidade que o filme vai explorar de um jeito interessante, reforçando
o contraste entre o mundo do trabalho de alguns anos atrás e as novas
tecnologias e processos de organização empresarial hoje vigentes.
Um roteiro bem construído vai apresentando situações
que têm sua graça, mas que nos fazem pensar sobretudo na velocidade das
transformações e no que isso traz de avanços, mas também de problemas e
limitações. Ganha-se em muitos aspectos,
mas o desgaste é grande e as perdas, inevitáveis. A formação pessoal, o estilo de viver e se
comportar, refletem diferentes formas de educação. Que, por seu turno, respondem a necessidades
distintas que o tempo transforma.
Ben foi executivo de uma firma que produzia listas
telefônicas, algo que os novos funcionários do site de moda em que ele foi ser estagiário mal sabem do que se
trata. Os mais jovens quase não
conseguem imaginar o que possa ter sido o mundo antes do advento do computador
e do celular. Mas talvez Ben tenha muito
a dar, como experiência de vida e equilíbrio, a esses novos colegas,
especialmente à dona dessa empresa virtual, Jules (Anne Hathaway), a bem
sucedida expressão de sucesso desse mundo frenético e avassalador de nossos
dias. É de paz e equilíbrio que ela mais
precisa para administrar tanto seu negócio, como sua família.
Da relação de Ben e Jules a trama se alimenta e
produz cenas interessantes. Há boa dose
de previsibilidade na história, mas tudo flui bem e o passatempo cumpre seu
objetivo, sem ser inócuo.
O talento de Robert De Niro carrega o filme e lhe dá
um inegável charme. Muito bem
complementado por Anne Hathaway, uma atriz muito expressiva e que passa ao
espectador a ansiedade que o personagem exige.
De Niro compõe um tipo adorável, bem centrado, diplomático, zen, o que se supõe ser uma conquista da
maturidade. Nem sempre, é claro. Mas funciona nessa história. Os demais
personagens são coadjuvantes, menos delineados, que entram para caracterizar,
principalmente, as situações cômicas. O filme dispensa apelações, é simpático e
divertido. Entretenimento de boa
qualidade.
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