Antonio
Carlos Egypto
AS MARAVILHAS (Le
Maraviglie). Itália, 2014. Direção e
roteiro: Alice Rohrwacher. Com Maria
Alexandra Lungu, Sam Lonwyck, Alba Rohrwacher, Saline Timoteo, Monica
Bellucci. 111 min.
“As Maravilhas” é um filme que vai interessar àqueles
que gostam de observar tipos humanos, complexos, algo indecifráveis ou mesmo
simbólicos. Figuras que circulam por
ambientes tão concretos quanto etéreos, tão realistas quanto sonhadores. O filme explora contrastes tanto nas
condições objetivas de vida, em face das fantasias, quanto nas expectativas e
desejos, dentro de cada personagem.
Há apenas um fio de história no universo de uma
família em zona rural longínqua da Itália, vivendo harmonicamente da apicultura. Tudo está no lugar, na visão do pai, naquela
unidade produtiva que faz da simplicidade e do mel, meticulosamente cuidado,
seu honesto e respeitado ganha-pão. Já
para a mãe e suas filhas talvez falte fantasia e, principalmente, sonhos e
perspectivas de futuro. Caberia ainda
providenciar uma ajuda masculina para o trabalho, o que surgirá de uma figura
adolescente, em conflito com a lei, com quem não é possível se comunicar pela
fala. Mas ele tem força, colabora e
assobia muito bem. Há todo um mistério
em torno dele. Está aí uma presença
capaz de modificar a estrutura de vida dessa família, em algum nível.
Mas será uma equipe de TV aparecendo para filmar por
lá, explorando as belezas naturais do lugar e tendo à frente Milly (Monica Bellucci), uma mulher
encantadora, estranha e misteriosa, que irá sacudir a vida das mulheres daquela
família. Em especial, a de Gelsomina
(Maria Alexandra Lungu), a jovem trabalhadora que nutre anseios por uma vida com
horizontes mais amplos do que os que sua aldeia pode oferecer. A TV traz até elas “A Ilha das Maravilhas”,
uma sedutora competição com prêmios, que
supostamente respeita e valoriza as comunidades que exibe no programa.
Há maravilhas na simplicidade da vida com as abelhas,
integrada à natureza, e na fantasia glamourosa que a TV representa, irrompendo
sem avisar na vida das pessoas. Ou o
encantamento sempre se desfaz quando a câmera se aproxima reveladora? Ainda existe espaço para um mundo intocado,
puro e isolado ou esta é também uma fantasia destinada a se desfazer?
“As Maravilhas”, com roteiro e direção da jovem
toscana Alice Rohrwacher, em seu terceiro filme, foi o vencedor do grande
prêmio do Júri do Festival de Cannes 2014.
Não se destina ao entretenimento, nem tem comunicação fácil ou atraente
com o grande público, por sua narrativa e personagens não convencionais, além
do clima estranho e seco por onde circulam as figuras humanas ali
retratadas. Explora ambiguidades e
incertezas que tendem a incomodar quem for buscar linearidades. Mas é um belo filme.
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