segunda-feira, 20 de abril de 2015

AS MARAVILHAS


Antonio Carlos Egypto




AS MARAVILHAS (Le Maraviglie). Itália, 2014.  Direção e roteiro: Alice Rohrwacher.  Com Maria Alexandra Lungu, Sam Lonwyck, Alba Rohrwacher, Saline Timoteo, Monica Bellucci.  111 min.



“As Maravilhas” é um filme que vai interessar àqueles que gostam de observar tipos humanos, complexos, algo indecifráveis ou mesmo simbólicos.  Figuras que circulam por ambientes tão concretos quanto etéreos, tão realistas quanto sonhadores.  O filme explora contrastes tanto nas condições objetivas de vida, em face das fantasias, quanto nas expectativas e desejos, dentro de cada personagem.




Há apenas um fio de história no universo de uma família em zona rural longínqua da Itália, vivendo harmonicamente da apicultura.  Tudo está no lugar, na visão do pai, naquela unidade produtiva que faz da simplicidade e do mel, meticulosamente cuidado, seu honesto e respeitado ganha-pão.  Já para a mãe e suas filhas talvez falte fantasia e, principalmente, sonhos e perspectivas de futuro.  Caberia ainda providenciar uma ajuda masculina para o trabalho, o que surgirá de uma figura adolescente, em conflito com a lei, com quem não é possível se comunicar pela fala.  Mas ele tem força, colabora e assobia muito bem.  Há todo um mistério em torno dele.  Está aí uma presença capaz de modificar a estrutura de vida dessa família, em algum nível.

Mas será uma equipe de TV aparecendo para filmar por lá, explorando as belezas naturais do lugar e tendo à frente  Milly (Monica Bellucci), uma mulher encantadora, estranha e misteriosa, que irá sacudir a vida das mulheres daquela família.  Em especial, a de Gelsomina (Maria Alexandra Lungu), a jovem trabalhadora que nutre anseios por uma vida com horizontes mais amplos do que os que sua aldeia pode oferecer.  A TV traz até elas “A Ilha das Maravilhas”, uma  sedutora competição com prêmios, que supostamente respeita e valoriza as comunidades que exibe no programa.




Há maravilhas na simplicidade da vida com as abelhas, integrada à natureza, e na fantasia glamourosa que a TV representa, irrompendo sem avisar na vida das pessoas.  Ou o encantamento sempre se desfaz quando a câmera se aproxima reveladora?  Ainda existe espaço para um mundo intocado, puro e isolado ou esta é também uma fantasia destinada a se desfazer?




“As Maravilhas”, com roteiro e direção da jovem toscana Alice Rohrwacher, em seu terceiro filme, foi o vencedor do grande prêmio do Júri do Festival de Cannes 2014.  Não se destina ao entretenimento, nem tem comunicação fácil ou atraente com o grande público, por sua narrativa e personagens não convencionais, além do clima estranho e seco por onde circulam as figuras humanas ali retratadas.  Explora ambiguidades e incertezas que tendem a incomodar quem for buscar linearidades.  Mas é um belo filme.

  

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