Antonio
Carlos Egypto
AMOR À PRIMEIRA BRIGA (Les Combattants). França,
2014. Direção: Thomas
Cailley. Com Adèle Haenel, Kévin Azaïs,
Antoine Laurent, Brigitte Roüan, William Legbhil. 98 min.
Dizer que “Amor à Primeira Vista” é uma história de
amor em que opostos se atraem e o improvável acontece entre dois jovens, Arnaud
(Kévin Azaïs) e Madeleine (Adéle Haenel) que, aparentemente, não teriam nada a
ver um com o outro, seria sugerir algo pouco original, previsível e que beira o
clichê. No entanto, o filme do diretor
francês estreante Thomas Cailley (também roteirista em parceria com Claude Le
Pape), está bem distante disso. Ele tem
um roteiro muito bem estruturado, uma pegada firme que explora situações
dramáticas e cômicas com a mesma eficiência e escapa completamente dos clichês.
O que mais contribui para isso é a construção dos
personagens, inteligente e surpreendente.
Que amplia e subverte a questão de gênero. Mulheres têm o direito de serem rudes,
agressivas, dominadoras, teimosas, obcecadas, atraídas pelo combate e pelo
desafio às capacidades físicas, mas, como esses comportamentos são atribuídos
socialmente ao gênero masculino, um personagem feminino que reúna todas essas
características soa como novidade. Se
fossem apenas uma ou duas características desse tipo e em destaque, seria mais
naturalmente assimilável. Mas não há
como negar que o conjunto de atributos que fazem parte da personalidade de
Madeleine produzem estranheza.
O personagem Arnaud, por seu lado, é um rapaz
tranquilo, pacífico, pouco competitivo, com uma sensibilidade e um trato com as
pessoas educado e até refinado. Ele
incorpora um conjunto de atitudes que o fazem mais “feminino” do que a média
dos homens. Não é gay nem afeminado, mas
sua masculinidade se apresenta de forma mais sutil, sem alarde. Colocado ao lado de Madeleine, o contraste se
evidencia mais.
As diferenças entre os dois personagens, além de não
serem intransponíveis, mostram que os universos do masculino e do feminino
podem ser ampliados, com vantagens para os dois gêneros. É preciso talento para conduzir uma história
de amor com personagens assim, sem cair não apenas no clichê, mas também na
obviedade ou no didatismo. Thomas
Cailley consegue isso.
É bom lembrar que as relações desses personagens
tratam também de sobrevivência e não apenas de amor e desejo. O que torna a trama mais curiosa e
interessante. Trata-se de um combate que
inclui um embate não só com o outro, mas consigo mesmo e a respeito do que se
sente. Por isso, o título original do
filme é “Les Combattants” (“Os Combatentes”). O título brasileiro “Amor à
Primeira Briga” não é absurdo, remete a uma cena importante do início da
narrativa, contudo, sugere algo bem mais banal do que aqui se pretende.
Os prêmios que o filme recebeu em várias categorias
da Quinzena de Realizadores no Festival de Cannes 2014 são um reconhecimento da
qualidade do trabalho apresentado.
Merecidos.
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