Antonio
Carlos Egypto
BRANCA
DE NEVE (Blanca Nieves). Espanha, 2012. Direção: Pablo Berger. Com Macarena García, Maribel Verdu, Ángela
Molina, Daniel Gimenez-Cacho, Inma Cuesta, Pere Ponce. 104 min.
A
famosa história de “Branca de Neve”, dos irmãos Grimm, já teve duas adaptações
recentes: os filmes norte-americanos “Espelho, Espelho Meu” e “Branca de Neve e
o Caçador”. Passam longe do texto
original e de sua leitura em animação para crianças, largamente popularizada
pela Disney.
Mas,
pelo jeito, Branca de Neve está mesmo na moda.
Agora é a vez de um filme espanhol, dirigido por Pablo Berger, que foi o
grande vencedor do Prêmio Goya 2013, o Oscar espanhol. Foi premiado como melhor filme, roteiro,
música e figurino, além das atrizes.
Essa versão não é mais fiel do que as anteriores, é uma criação a partir
do estímulo original, tanto quanto aquelas.
Mas tem mais originalidade e densidade dramática.
Para
começar, porque o filme é mudo, não tem diálogos, tem intertítulos, mas tem uma
trilha sonora admirável. É feito em
preto e branco, com granulações, para remeter aos filmes do período silencioso
do cinema. Sua ação se passa em Sevilha,
nos anos 1920.
Todo
mundo vai lembrar imediatamente de “O Artista’, o filme francês de Michel
Hazanavicius, que ganhou o Oscar de 2012.
É inevitável. Diz a produção
espanhola que “Branca de Neve” já estava concebida assim desde 2004. É possível, pode haver sincronia em busca de
algo, sem que uma ideia necessariamente seja copiada de outra. Isso também não importa tanto. Podem ser feitos muitos filmes com essas
características, seja por nostalgia, desejo de recuperar algo que se foi ou se
perdeu, seja por exercício de estilo, homenagem à história do cinema ou resgate
de um meio de narrar que já foi tão eficiente e popular. Por que não?
A
“Branca de Neve” espanhola, que de origem se chamava Carmen, (claro!), ganhou
esse apelido quando conheceu os anões toureiros e passou a apresentar-se junto
com eles em todos os lugares, para escapar da madrasta má (e põe má nisso!),
que queria matá-la a todo custo.
Carmencita é filha de um toureiro famoso, que ficou incapacitado de
mover mãos e pernas num sério acidente numa tourada. Mas teve tempo de ensinar a ela alguns
truques importantes do ofício. E por aí
a coisa vai.
O
roteiro premiado com o Goya é mesmo muito interessante. A narrativa flui e amarra bem suas pontas,
tornando palatável para adultos uma história de contos de fadas arquiconhecida,
sem precisar apelar para o excesso de efeitos especiais e os exageros tão
comuns às adaptações desse tipo, feitas por Hollywood.
A
jovem Carmen/Branca de Neve é vivida pela atriz Macarena García, ótima. Maribel Verdu encarna a madrasta Encarna e
faz a maldade levada ao extremo, como se isso pudesse existir. Ela chega até a nos convencer desse
absurdo. A grande atriz Ángela Molina,
por outro lado, faz Dona Concha, a avó acolhedora e terna, que simboliza a bondade. Aquela que faz tão bem à gente que,
inevitavelmente, tem de acabar desaparecendo.
"Não há bem que nunca acabe, nem mal que sempre dure”, o ditado
popular serve como uma luva nessa história.
O filme não vai decepcionar quem for vê-lo, é muito
bem realizado. Até quem já cansou de
Branca de Neve, não aprecia cinema mudo e não gosta de touradas, é capaz de
curtir.
Desde as primeiras cenas, com seus closes, cortes e a música ao fundo, o filme é arrebatador. A crítica do Egypto ressalta tudo de
ResponderExcluirótimo que tem o filme. Sobre a realização, lí que o diretor, Pablo Berger, levou anos para poder concretizá-lo - afinal, filme preto e branco, mudo, remetendo-nos aos primórdios do cinema poderia não ser palatável numa época de blockbusters. Felizmente, conseguiu terminá-lo e nos deu um dos melhores filmes que tivemos a oportunidade de assistir.
FRANCISCO MONTEAGUDO.