quarta-feira, 3 de julho de 2013

BRANCA DE NEVE

Antonio Carlos Egypto




BRANCA DE NEVE (Blanca Nieves).  Espanha, 2012.  Direção: Pablo Berger.  Com Macarena García, Maribel Verdu, Ángela Molina, Daniel Gimenez-Cacho, Inma Cuesta, Pere Ponce.  104 min.


A famosa história de “Branca de Neve”, dos irmãos Grimm, já teve duas adaptações recentes: os filmes norte-americanos “Espelho, Espelho Meu” e “Branca de Neve e o Caçador”.  Passam longe do texto original e de sua leitura em animação para crianças, largamente popularizada pela Disney. 

Mas, pelo jeito, Branca de Neve está mesmo na moda.  Agora é a vez de um filme espanhol, dirigido por Pablo Berger, que foi o grande vencedor do Prêmio Goya 2013, o Oscar espanhol.  Foi premiado como melhor filme, roteiro, música e figurino, além das atrizes.  Essa versão não é mais fiel do que as anteriores, é uma criação a partir do estímulo original, tanto quanto aquelas.  Mas tem mais originalidade e densidade dramática.




Para começar, porque o filme é mudo, não tem diálogos, tem intertítulos, mas tem uma trilha sonora admirável.  É feito em preto e branco, com granulações, para remeter aos filmes do período silencioso do cinema.  Sua ação se passa em Sevilha, nos anos 1920. 

Todo mundo vai lembrar imediatamente de “O Artista’, o filme francês de Michel Hazanavicius, que ganhou o Oscar de 2012.  É inevitável.  Diz a produção espanhola que “Branca de Neve” já estava concebida assim desde 2004.  É possível, pode haver sincronia em busca de algo, sem que uma ideia necessariamente seja copiada de outra.  Isso também não importa tanto.  Podem ser feitos muitos filmes com essas características, seja por nostalgia, desejo de recuperar algo que se foi ou se perdeu, seja por exercício de estilo, homenagem à história do cinema ou resgate de um meio de narrar que já foi tão eficiente e popular.  Por que não?




A “Branca de Neve” espanhola, que de origem se chamava Carmen, (claro!), ganhou esse apelido quando conheceu os anões toureiros e passou a apresentar-se junto com eles em todos os lugares, para escapar da madrasta má (e põe má nisso!), que queria matá-la a todo custo.  Carmencita é filha de um toureiro famoso, que ficou incapacitado de mover mãos e pernas num sério acidente numa tourada.  Mas teve tempo de ensinar a ela alguns truques importantes do ofício.  E por aí a coisa vai.

O roteiro premiado com o Goya é mesmo muito interessante.  A narrativa flui e amarra bem suas pontas, tornando palatável para adultos uma história de contos de fadas arquiconhecida, sem precisar apelar para o excesso de efeitos especiais e os exageros tão comuns às adaptações desse tipo, feitas por Hollywood.




A jovem Carmen/Branca de Neve é vivida pela atriz Macarena García, ótima.  Maribel Verdu encarna a madrasta Encarna e faz a maldade levada ao extremo, como se isso pudesse existir.  Ela chega até a nos convencer desse absurdo.  A grande atriz Ángela Molina, por outro lado, faz Dona Concha, a avó acolhedora  e terna, que simboliza a bondade.  Aquela que faz tão bem à gente que, inevitavelmente, tem de acabar desaparecendo.  "Não há bem que nunca acabe, nem mal que sempre dure”, o ditado popular serve como uma luva nessa história.

O filme não vai decepcionar quem for vê-lo, é muito bem realizado.  Até quem já cansou de Branca de Neve, não aprecia cinema mudo e não gosta de touradas, é capaz de curtir.


Um comentário:

  1. Desde as primeiras cenas, com seus closes, cortes e a música ao fundo, o filme é arrebatador. A crítica do Egypto ressalta tudo de
    ótimo que tem o filme. Sobre a realização, lí que o diretor, Pablo Berger, levou anos para poder concretizá-lo - afinal, filme preto e branco, mudo, remetendo-nos aos primórdios do cinema poderia não ser palatável numa época de blockbusters. Felizmente, conseguiu terminá-lo e nos deu um dos melhores filmes que tivemos a oportunidade de assistir.
    FRANCISCO MONTEAGUDO.

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