Antonio Carlos Egypto
VOCÊS AINDA NÃO VIRAM NADA (Vous N’Avez Encore Rien Vu). França, 2012. Direção: Alain Resnais. Com: Sabine Azéma, Pierre Arditi, Mathieu
Amalric, Michel Piccoli, Anne Consigny, Lambert Wilson, Hippolyte
Girardot. 115 min.
Alain Resnais, um dos maiores
cineastas de todos os tempos, segue não só vivo como muito ativo, com um novo
filme na praça. Desta vez é “Vocês Ainda
Não Viram Nada”. Um filme que homenageia
o teatro, seus grandes textos, atores e atrizes.
A história começa com o aviso
telefônico a grandes atores e atrizes da morte de um importante
dramaturgo. Cada um deles já encenou, em
alguma versão, a peça “Eurídice”, que ele escreveu. Devem se reunir em uma casa do autor teatral,
para assistir à leitura de seu testamento, gravado em vídeo.
O pedido pos-mortem do dramaturgo
é para que eles avaliem, com base em suas experiências anteriores com a peça,
uma nova montagem de um grupo jovem, para aprová-la ou não.
Essa circunstância faz com que Resnais reúna alguns grandes atores e
atrizes, sem cenário ou figurino algum, e os faça representar belas passagens
de textos muito bons. Enquanto isso,
cenas de uma montagem despojada, moderna, voltada ao social, são mostradas na
tela, por meio de bons intérpretes, mas ainda em formação.Os veteranos
relembram as cenas e como as fizeram no passado, recriam suas falas, entonações
e sentimentos, ao ver a nova montagem. A
emoção vai se impondo e cada um deles tem uma nova e rica experiência, ao
rememorar e reinterpretar o texto.
O que significa uma obra teatral
densa e envolvente? É algo de que não se
esquece e que nunca perde o sentido.
Acompanha-nos por toda a vida. Os
atores e atrizes que a viveram no palco estarão marcados para sempre por
aqueles personagens e suas falas mais destacadas. É realmente uma bela homenagem ao fazer
teatral o que Alain Resnais desenvolve aqui, no jogo da encenação atual e
antiga, em que os veteranos, naturalmente, roubam a cena, sem precisar de
adereço algum para isso.
Um grande ator, uma grande atriz,
mesmo sozinhos num palco nu, enchem a cena.
É impressionante como isso se dá, é mágico. Quem já viu Paulo Autran ou Fernanda Montenegro contando casos, sem nada a apoiá-los num palco, sabe do que se
trata. É algo intangível, uma
experiência espiritual, talvez. De
qualquer modo, inesquecível.
Alain Resnais fala do impacto de
uma grande peça em um momento da sua vida.
Comenta que, quando foi assistir à montagem de “Eurídice”, de Jean Anouilh,
nos anos 1970, em Paris, ficou tão emocionado que teve de fazer um passeio de
bicicleta pela cidade, para colocar seus pensamentos em ordem, e foi rever a
peça na semana seguinte. “Vocês Ainda
Não Viram Nada” faz uma adaptação livre de “Eurídice” e “Cher Antoine”, do
dramaturgo Anouilh.
As interpretações trazem Sabine
Azéma e Pierre Arditi, colaboradores habituais do diretor, assim como Anne
Consigny e outros. Mas traz também
Michel Piccoli, Mathieu Amalric, Lambert Wilson e Hyppolyte Girardot. Uma lista de atores e atrizes brilhantes, que
nos impacta ao longo de todo o filme.
Para fruir como quem come uma boa comida francesa, saboreando um bom
vinho. Aliás, Alain Resnais é como os
bons vinhos, ao longo do tempo. Mantém
intactos seus dotes, quando não se supera.
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