Antonio Carlos Egypto
O DIA QUE DUROU 21 ANOS. Brasil, 2012.
Direção: Camilo Tavares.
Documentário. 80 min.
31 de março/1º. de abril de
1964. Um dia triste, guardado na
memória. Eu era um adolescente
interessado em política, que procurava me informar do que estava acontecendo. Acreditava que a reforma agrária era urgente
para resolver muitos problemas do país.
E que as reformas de base que o presidente João Goulart pregava seriam
um caminho na direção da justiça social e da modernização do Brasil.
O golpe de Estado que derrubou
Jango foi uma sombra que escondeu a luz carregada de esperança daqueles
dias. Chamavam essas coisas de
subversão, comunismo. E o golpe, de
revolução. Acho que eles tinham um
dicionário próprio, diferente do que eu costumava consultar lá em casa.
Quem poderia imaginar que esse
dia triste duraria tantos anos e traria dias muito mais tristes pela
frente? O filme de Camilo Tavares já
começa bem pelo título, muito feliz: “O Dia Que Durou 21 Anos”. Ele nos mostra, didaticamente, o que foi esse
longo e tenebroso período da ditadura, desencadeada e mantida pelos militares,
mas que teve todo o apoio das elites da época, dos jornais, depois censurados,
aos empresários que financiavam a repressão e até assistiam a torturas.
O mais importante, no entanto, do
que o documentário focaliza, é mostrar de forma categórica que o golpe foi
concebido, apoiado e financiado pelo governo dos Estados Unidos. Aponta o papel fundamental do embaixador americano
no Brasil, Lincoln Gordon, do envolvimento da CIA, da operação Brother Sam, que poderia promover uma invasão naval do Brasil por Santos, e do
envolvimento direto dos presidentes democratas John Kennedy, assassinado em
meio a esses fatos, e Lyndon Johnson.
Eu me lembro de uma matéria
ampla, de capa, de uma revista que tinha prestígio naqueles dias, com a
manchete cínica: “A nação que se salvou a si mesma”. Agora temos a clareza de que todo o plano
posto em prática foi rigorosamente executado tal como foi planejado na Casa
Branca. Está tudo bem documentado pelo
filme de Camilo Tavares, cujos argumento e consultoria ficaram a cargo de seu
pai, Flávio Tavares, um dos presos políticos trocados pelo embaixador americano
sequestrado no Brasil, Charles Elbrick.
Esse episódio também está no filme e faz todo o sentido, depois do que
se vê do espírito golpista do governo norte-americano daquele período, para
defender a democracia (sic) dos riscos do comunismo e de uma nova Cuba, na
América Latina.
Ao longo dos anos, as coisas
acabaram não saindo como o planejado e até alguns dos maiores apoiadores
iniciais locais optaram por publicar receitas de bolo, em lugar de notícias
censuradas. No exterior, eram frequentes
as denúncias de violações de direitos humanos pelo regime autoritário
brasileiro, que se eternizava no poder à força.
As sombras viraram trevas e foi preciso muito esforço, muita luta e
negociação, para que acabássemos finalmente caindo numa democracia, sem aspas e
sem ironia.
Lembrar essa história, ou
conhecê-la, no caso dos mais jovens, é fundamental. Daí a importância do documentário lançado
agora nos cinemas. Aliás, pessimamente
lançado: em poucas salas e só em alguns horários. Acabará levando pouca gente aos cinemas. Quem não alcançar vê-lo agora, poderá
encontrá-lo brevemente em DVD. Indispensável.
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